A Reitoria mantém-se em silêncio em relação ao curso pago de graduação em administração, que a Faculdade FIA de Administração e Negócios está lançando, conforme noticiado pelo Informativo Adusp 317. O reitor Grandino Rodas não respondeu às perguntas encaminhadas pelo Informativo da Associação dos Docentes da USO (Adusp) à assessoria de imprensa da Reitoria. Também não atendeu à Folha de S. Paulo, que publicou reportagem sobre o caso em 23/11.
Diante da movimentação de alunos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), que realizaram reuniões para tratar do assunto, e até de professores da unidade que se manifestaram desfavoravelmente ao curso da FIA, a fundação procurou contornar as resistências encontradas.
Um “Comunicado da FIA” foi encaminhado aos estudantes, em 12/11, pelo professor Hamilton Corrêa, coordenador do curso de graduação em administração da FEA. Neste documento, a fundação apresenta um histórico de suas atividades: afirma que “desde sua criação, em 1980, apóia financeira e materialmente a FEA-USP”; que no passado “atuou em parceria” com o Departamento de Administração da FEA “na realização dos MBAs, cujos diplomas chegaram a ser expedidos pela USP em algumas turmas”; e que “desde 2003, por iniciativas de grupos de pressão atuando na USP, os MBAs da FIA passaram a ser sediados integralmente fora do campus, sem nenhuma alusão à marca USP em sua divulgação, encarecendo sua operação”.
Pressão na USP
Na sequência, o “Comunicado da FIA” explica que, “apesar dessas restrições práticas onerosas, a FIA transformou-se em uma IEC, Instituição Especialmente Credenciada pelo MEC, autorizada a realizar cursos de pós graduação lato sensu, e manteve e ampliou o volume de recursos doados anualmente em apoio à FEA”. No entanto, prossegue, recentemente, “diante de propostas específicas de grupos de interesse no sentido de extinguir as IECs, acolhidas no MEC, tornou-se indispensável para a sua continuidade a FIA assumir a responsabilidade de manter um curso de Graduação, e ela tornou-se uma IES-Instituição de Ensino Superior”.
O texto afirma ainda que “nenhum professor da ativa” do Departamento de Administração da FEA ministrará disciplinas no curso da FIA, que será “pago, de alto padrão, voltado à formação de um novo profissional”. Sugere que o curso de Administração da USP terá muito a aprender com seu congênere oferecido pela fundação privada: “material didático, as ementas, os casos e as práticas de formação destes jovens profissionais desenvolvidas pela FIA serão integralmente disponibilizados aos docentes da FEA”.
Procurado pelo Informativo Adusp, o professor Corrêa expressou a opinião de que o curso da FIA “não afeta em nada” o curso da FEA, por ele coordenado, e reafirmou que os docentes da USP não darão aula no curso similar privado. “Meu compromisso principal é com a USP. Vou assegurar que nossos professores tenham compromisso com nosso curso”, declara, enfaticamente.
Conflito
Ao mesmo tempo em que coordena a graduação em administração da FEA, o professor Corrêa é um dos coordenadores de projetos da FIA. No entanto, considera que não incorre em conflito de interesses: “Não coordeno projetos na FIA há mais de dez anos. Nunca tive cargo de direção”. Ele defende a fundação privada e minimiza o fato de que o apoio à USP desapareceu do estatuto da entidade: “Do ponto de vista real a FIA apóia financeiramente a FEA e a USP”. Para o professor, a crítica da Adusp às fundações é “questão ideológica”.
Questionado se a fundação privada também não é um grupo de interesse, uma vez que, por exemplo, cobrará 2,2 mil reais mensais pelo curso, ele esquivou-se: “Não sei. Você deve perguntar isso à FIA”. Corrêa surpreendeu-se ao tomar conhecimento, pelo Informativo Adusp, de que a Faculdade FIA fora criada no ano 2000, e só acreditou quando o repórter leu para ele a informação, que consta da página http://www.fia.com.br/graduacao/infos.htm.
O “Comunicado da FIA” omite o fato de que, se ela surgiu como entidade dita de apoio à FEA-USP, hoje essa finalidade sequer consta do seu estatuto. Também é duvidosa a afirmação de que a fundação, após tornar-se uma IEC em 2003, “manteve e ampliou o volume de recursos doados anualmente em apoio à FEA”. Dados da Reitoria referentes a 2005 e 2006 indicam queda acentuada nos repasses das fundações ligadas à FEA, fato confirmado pelo vice-reitor Franco Lajolo em 2007 (vide Revista Adusp 40, p. 57-59).
A FIA é dirigida por professores da FEA-USP. Todos os seus coordenadores de projetos são professores da unidade. Embora a fundação propale apoiar a universidade, os repasses financeiros nunca passaram de 6% das receitas arrecadadas por ela a cada ano. A maior parte dos recursos é utilizada para remuneração dos coordenadores. Em debate ao vivo na rádio CBN em 25/11, o professor João Zanetic reafirmou a posição da Adusp quanto à existência de conflito de interesses e problemas éticos no caso. O professor James Wright, diretor da FIA, definiu o novo curso como “experimental” e “laboratório”.
Fonte: Adusp |
