No dia 03 de maio (sexta-feira), no auditório Rio Amazonas, na Faculdade de Estudos Sociais (FES), foi debatida a deflagração de greve na Universidades Federal do Amazonas (Ufam) em Reunião Intersetorial convocada para docentes de dez unidades acadêmicas. Em votação com caráter apenas consultivo e não deliberativo, 33 professoras(es) votaram a favor da greve, 15 contra e cinco abstiveram-se.
A convocação para a Reunião Intersetorial foi feita para docentes da FES, Faculdade de Educação (Faced), Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS), Faculdade de Letras (Flet), Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), Faculdade de Artes (Faartes), Faculdade de Tecnologia (FT), Instituto de Ciências Exatas (ICE), Instituto de Computação (Icomp) e Faculdade de Direito (FD).
Entre os posicionamentos apresentados estiveram a da professora da Faced, Silvia Conde, que partilhou do constrangimento, na atual conjuntura, de lecionar política educacional e defender a necessidade da disputa pelo fundo público. “Sou pesquisadora da área do financiamento da educação e tenho acompanhado cada vez mais a diminuição dos recursos públicos direcionados para a educação pública. Não tenho dúvidas: não sobram motivos para que a gente entre em greve”.
A docente da Faced também rebateu o argumento de muitas(os) docentes que defendem a não adesão à greve devido ao calendário pós-pandemia da Ufam. “Não tem como nós seguirmos como se nada estivesse acontecendo. Nossos companheiros estão em greve, a greve está instalada. A gente decide se cruza os braços e segue o nosso calendário, fazendo uma analogia com a guerra: deixa os soldados rasos irem na frente, e a gente fica aqui para ver no que vai dar. A greve está instalada, e é de um constrangimento indescritível seguir no nosso calendário como se nada estivesse acontecendo”.
O professor do IFCHS, José Alcimar de Oliveira, afirmou que a greve já é uma realidade forte e em ascenso e não há mais como adiar uma decisão. O docente ainda convocou a todas(os) as(os) professoras(es) sindicalizados ou não, que são contra ou a favor da greve, a comparecem a Assembleia da ADUA no dia 9 de maio para participarem da votação. “A questão é que alguns dizem: ‘ah, eu não quero greve’, mas você não vai para a assembleia. Então você não tem autoridade nenhuma para dizer que não quer a greve. Por quê? Porque a deliberação sobre a greve é na Assembleia Geral da categoria”.
Alcimar lembrou o movimento “estamos em aula”, posto em prática por um grupo de docentes da Ufam, durante a greve de 2015, quando ele era presidente da ADUA. “Isso foi vergonhoso, isso é falta de consciência política, é analfabetismo político. Então, companheiro, se você não quer a greve, compareça à assembleia, se quer, compareça. A posição que eu vou tomar aqui nessa votação consultiva será a mesma que eu vou tomar na assembleia. Voto consultivamente e de forma deliberativa na sede da ADUA pela greve”, afirmou.
Até o momento, 47 instituições de ensino federais de ensino estão em greve, sendo 40 universidades, cinco institutos e dois Cefets. Outras três universidades estão com deflagração prevista. As informações são do Comando Nacional de Greve (CNG).
Precarização do trabalho
Outras(os) docentes apresentaram seus posicionamentos durante a Reunião Intersetorial. Entre os argumentos a favor da greve estiveram ainda as péssimas condições de trabalho na Ufam. A professora da FIC, Guilhermina Melo Terra, citou a falta de materiais básicos como pinceis e cartuchos de tinta para impressora, que acabam sendo custeados pelas(os) docentes. Já a professora do IFCHS e diretora da ADUA, Ana Cláudia Nogueira, falou sobre a ocorrência de pragas nas dependências da universidade como ratos, baratas e cupins, e que põe em risco a saúde da comunidade acadêmica.
A ADUA vem denunciando as atuais condições de trabalho na Ufam, que além da falta de materiais, também têm sido impactadas com problemas como a falta de abastecimento de águas, problemas elétricos, frota de carros para práticas de campo sucateada, insegurança nos campi, salas sem ar-condicionado, bibliotecas e laboratórios sem equipamentos necessários.
Em março deste ano, a Seção Sindical realizou um ato denunciando a questão, que foi finalizado com a entrega do dossiê produzido pelas(os) docentes de Geologia da Ufam à reitoria da Universidade. No mês de abril, a ADUA lançou a pesquisa online “Condições Gerais de Trabalho Docente na Ufam” que tem como público-alvo docentes sindicalizadas(os) e não sindicalizados. As informações irão compor um documento, que será apresentado e debatido junto à categoria docente, ao ANDES-SN e à Administração Superior da universidade.
Fotos: Sue Anne Cursino
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