18/03/2024

Mulheres trocam experiências sobre Violência Política de Gênero na Ufam em Jornada de Luta da ADUA

Atuar politicamente dentro de uma universidade é um desafio. Quando se é uma mulher, as dificuldades aumentam. Essa foi a realidade exposta pelas convidadas da roda de conversa "Violência Política de Gênero na Ufam", atividade da Jornada de Luta pelos Direitos das Mulheres, organizada pela ADUA com programação durante o mês de março. O encontro ocorreu no auditório “Professor Osvaldo Coelho”, na sede da Seção Sindical, e foi transmitido pelo Google Meet. Em breve, a roda de conversa será disponibilizada no canal da ADUA do YouTube.

Para a presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Amazonas (DCE/Ufam) e estudante do curso de Pedagogia, Rita Vieira, a Universidade é um ambiente hostil para as mulheres, principalmente para as discentes. Rita narrou a experiência da violência política já na primeira atuação como liderança estudantil, como presidente do Centro de Acadêmico. “A gente precisa enfrentar, ser combativa e se colocar, são espaços que nos dão destaque, mas nos machucam, e os machucados não partem apenas de homens, senti violência de mulheres que deveriam estar ombro a ombro, se protegendo, se blindando”, comenta.

Em suas participações nos conselhos da Universidades, como o Consepe e o Consuni, e no DCE, as violências também continuaram. “Os ataques direcionados a mulheres são claros, são comportamentos que intimidam, mesmo que não explicitamente, tem um cunho misógino, é um espaço em que é preciso gritar para ser ouvida porque os homens se colocam numa posição de domínio, intimidação, isso tudo acaba causando um prejuízo emocional grande. A gente se fortalece, mas às vezes fica fragilizada emocionalmente”.

Rita destacou que o acolhimento das denúncias dentro da Universidade é outra problemática. “Chegamos para fazer uma denúncia na universidade, na Cecam, a maneira como é recebida e o retorno dependem de quem está lá, e normalmente são homens, você é violentada por um homem e atendida por um homem, que muitas vezes carrega valores de uma sociedade terrivelmente patriarcal (...) aqui num ambiente universitário ainda deixa muito a desejar, a gente não vê isso se concretizar, ficou na narrativa, no discurso”, afirmou, acrescentando que a falta de assistência causa uma sensação dupla violência.

Em sua fala, a docente da Faculdade de Educação (Faced) da Ufam, Silvia Conde, pontuou que a violência política de gênero vivenciada dentro das universidades é reflexo da sociedade determinada pela luta de classes, o machismo, a misoginia, o patriarcado e o racismo. “Esse tema está tolamente atravessado por todas essas determinações sócio-históricos postas e a universidade é expressão do que acontece nesse contexto maior”, disse.

Outra reflexão trazida pela professora foi o fato de que apenas a existência de legislações não resolve essas violências. “Quando a gente fala de criminalização, num estado democrático de direito, é importante que se coloque, mas de fato não se têm grandes mudanças, porque a lei por si não representa mudanças efetivas na sociedade, nós temos alguns marcos legislativos consideráveis, mas não podemos repousar neles todas as nossas expectativas”. Conde acrescentou que as violências são sentidas “nas nossas carnes, mentes, corações, somos atravessadas” e “não tem legislação que sirva de afago”.

A professora da Faced frisou ainda que qualquer mulher pode sofrer violência política e que isso ultrapassa o âmbito dos púlpitos, das Câmaras e Assembleias, uma vez que somos todos sujeitos políticos. “A violência de gênero diz respeito a todo ato, ação que impede, restringe, subjuga uma mulher no exercício de um momento político. Na realidade há determinados conceitos que situa no espaço político, no mandato, mas nós somos políticos a todo momento. A gente se coloca nesse mundo de modo político, a partir da nossa realidade sócio-histórico, e aqui dentro, como estudante, como docente, como servidores, a violência política de gênero nos atravessa”.

Agora aposentada após 27 anos de atuação na Ufam como técnico-administrativa em Educação, a militante social e ex-dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas (Sintesam), Ana Grijó, conta que também viveu situações de política dentro da Universidade. “Eu sempre trabalhei na maioria das vezes com mulheres, mas assim mesmo teve momentos que é difícil até relatar, de imposição por conta das funções, dos cargos, e a gente teve que enfrentar”.

Em sua atuação sindical, Grijó também passou por episódios de violência. Recentemente, ela afirma que isso ocorre ao formar uma chapa para concorrer à coordenação do sindicato. “No final a pessoa impôs porque era proporcionalidade, impôs a coordenação geral, aí eu não consegui ficar, a imposição foi muito grande ao ponto que eu me abalei e larguei a toalha”, contou.

A situação a levou ao adoecimento. “Estou com sequelas desse momento, não é fácil, tive essa experiência na saúde por ter passado por isso”, afirmou, acrescentando que o caso gerou reflexo no âmbito do trabalho. “Essa decisão de nós mulheres assumirmos uma chapa teve consequência dentro da universidade, nós fomos punidas na universidade por conta dessas composições sindicais (...) dentro do sindicato deveria ter orientação, educação política e valorização das mulheres, mas a gente ainda sofre a pressão do machismo, inclusive na universidade”. Assista à roda de conversa na íntegra no canal da ADUA no YouTube aqui. 

A próxima roda de conversa da Jornada de Luta pelos Direitos da Mulheres, organizada pela ADUA, será realizada na sexta-feira (22 de março), também no auditório da Seção Sindical e com transmissão pelo Google Meet. 

Fonte: ADUA

Fotos: Daisy Melo/Ascom ADUA