Docentes e profissionais de comunicação do Sindicato Nacional e das seções sindicais estiveram presentes no evento (Foto: ANDES-SN)
Sue Anne Cursino
"Comunicação é política”. Essa é a frase-chave que sintetiza os posicionamentos de docentes e profissionais de comunicação das assessorias das seções sindicais e do ANDES-SN nos debates do VII Encontro de Comunicação e Arte e do II Festival de Arte e Cultura do ANDES-Sindicato Nacional, realizados em São Luís (MA), de 7 a 10 de dezembro.
Mesas-redondas, oficinas, grupos de trabalho e apresentações culturais fizeram parte da programação que teve como objetivo central pensar a comunicação como um espaço de disputas ideológicas e ações contra-hegemônicas, compartilhar produções artísticas, além de debater propostas de atualização do Plano Geral de Comunicação do ANDES-SN.
A ADUA esteve presente no encontro, sendo representada pelo coordenador da comunicação da seção sindical e 1º tesoureiro, Tomzé Costa, e a assessora de comunicação, Sue Anne Cursino.
Os eventos foram realizados nas universidades Federal do Maranhão (Ufma) e Estadual do Maranhão (Uema), sob organização do Grupo de Trabalho Comunicação e Arte (GTCA) e sediados pela Apruma e Sinduema (seções sindicais do ANDES-SN).
Na avaliação do encarregado de comunicação do ANDES-SN, Fernando Lacerda, os eventos cumpriram importantes pontos como: ser um espaço de compartilhamento de experiências de encarregados(as) de comunicação nas seções sindicais; lugar para que professores e professoras compartilhassem produções de arte e comunicação; arena de debate sobre a comunicação sindical diante de contextos de novas tecnologias, além de fomentar diálogos nos Grupos de Trabalhos (GTs) e plenária sobre propostas de atualização do Plano de Comunicação do Sindicato Nacional.
Entre as mesas-redondas, foi apresentada no primeiro dia (7) a temática “Mídias, comunicação e lutas contra-hegemônicas: Velhos e novos autoritarismos”, com participação de Emílio Azevedo (Agência Tambor), Guilherme Faro Bonan (Cajuína Filmes), Cristiano Engelke (Aprofurg) e mediação de Letícia Carolina do Nascimento, do Grupo de Trabalho de Comunicação e Artes (GTCA).
Entre os pontos abordados pelo jornalista Emílio Azevedo está a crítica de que “o discurso sobre comunicação é algo colonial”, resultando na necessidade de “furar a bolha” na qual a comunicação está alicerçada e defender a produção do jornalismo popular.
“A sociedade vive uma imposição da indústria cultural”, é o que afirmou Guilherme Faro, chamando atenção para o fato de que as grandes empresas de comunicação, as chamadas big techs, consideradas gigantes da tecnologia, “sistematizam e centralizam o debate público, sem qualquer neutralidade”. Já para Cristiano Engelke, existe uma necessidade de se pensar em estratégias de comunicação que rompam com a lógica atual. “A gente disputa nossa base docente com outras narrativas. Então, como construir uma comunicação de rede contra-hegemônica? Temos que nos adaptar ao que os outros falam ou reforçar o que queremos dizer e como queremos dizer?”.
No segundo dia de evento (8), durante fala na mesa “Extrema direita, privatização e precarização das políticas de cultura e arte”, o docente da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Antônio Câmara, afirmou que a arte é elemento central para compreender a realidade, ainda que a “extrema direita tenha saído do esgoto e dos porões para atuar na sociedade implementando boicote às políticas públicas de arte e cultura”. Participando do mesmo diálogo, a docente do curso de Artes Visuais da Ufma, Luisa Maria da Fonseca, afirmou que “a cultura é um lugar de confronto e que a arte provoca crenças estabelecidas”. A docente teceu críticas ao sucateamento e precarização nos cursos de artes, como falta de materiais e estruturas para laboratórios. “Não é só uma precarização de materiais básicos, é a precarização da dignidade”.
Participantes do encontro conheceram o processo de produção de Xilogravura (Foto: Sue Anne/ Ascom ADUA )
Ainda no segundo dia do evento foram realizadas oficinas de arte, como a Cianotipia (um dos processos de impressão fotográfica); Maquiagem Artística; Arteterapia; Gravura Xilográfica e Teatro, além de oficinas de comunicação, como podcast, produção de vídeo e comunicação sindical.
No terceiro dia (9), Luiz Henrique Schuch, docente aposentado da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), integrou a mesa “Políticas de Comunicação como forma de fortalecimento da luta sindical: Desafios para a atualização do plano de comunicação do ANDES-SN”, na qual fez um resumo da trajetória da comunicação no ANDES-SN, ressaltando a importância para sua atualização. “É um plano aberto, onde existe um ideário que abre vias que direcionam os passos futuros”.
Luiz Henrique Schuch falou sobre a trajetória de comunicação no ANDES-SN (Foto: ANDES-SN)
O docente esteve à frente da construção do plano de comunicação entre 2010 e 2011 e enfatizou que persiste no cenário a necessidade de “luta contra a ideologia hegemônica do mercado que controla o poder dos meios de comunicação”.
Ainda dentro da programação, durante reunião das assessorias, foram compartilhadas experiências sobre as condições de trabalho dos(as) profissionais e debatido sobre a desmobilização docente em atividades presenciais e estratégias de ação que possam integrar a atualização do plano de comunicação no trabalho coletivo da comunicação sindical.
O diálogo norteou a produção de Carta Coletiva dos e das profissionais da comunicação do ANDES-SN e de suas seções sindicais que aponta para a necessidade de sensibilização política e social da direção do Sindicato Nacional, bem como das diretorias e coordenações das seções sindicais. O documento foi lido no último dia do evento (10) e entregue à direção do sindicato.
Na avaliação do coordenador de comunicação da ADUA e integrante do GTCA, Tomzé Costa, a Seção Sindical tem participado dos encontros do grupo, considerando a preocupação de que seja feito o melhor trabalho. “Há um avanço na preocupação com a formação dos profissionais da comunicação que atuam nas seções sindicais e suas condições de trabalho, e a busca pela construção de um melhor trabalho de aproximação e formação militante do docente. Eu penso que o papel da comunicação é ser suporte da atividade sindical, na qual o militante está politicamente organizado”.
O acúmulo sobre o que foi debatido nos grupos de discussão e na plenária final passará por avaliação da coordenação do GTCA e deve ser transformado em Texto de Resolução (TR) para ser avaliado e aprovado no 42º Congresso do ANDES-SN, marcado para 26 de fevereiro a 1º de março de 2024 em Fortaleza (CE).
II Festival de Arte e Cultura do ANDES-SN
Em São Luís, cidade de vibrante cultura, os e as participantes do VII Encontro de Comunicação e Arte apreciaram diversas manifestações artísticas locais e de outros estados a partir do compartilhamento de experiências e produções de docentes no II Festival de Arte e Cultura.
O encontro se firmou como importante espaço de reflexão e apreciação de manifestações artísticas e culturais que expressam a sociedade e a luta da classe trabalhadora. Exposição fotográfica, exibição de documentários e declamação de poesia fizeram parte da programação na Ufma.
Foto: Sue Anne Cursino/Ascom ADUA
Entre os casarões do Centro Histórico de São Luís, os e as participantes puderam assistir a expressão de matriz afro-brasileira, na apresentação do Tambor de Crioula Catarina Mina.
Na escada que dava acesso ao Auditório da Ufma, foi possível contemplar a exposição fotográfica “Errâncias Impossíveis”, compartilhada pela docente Ceane Simões (UEA). A Ufma também foi palco da evolução do Boi Unidos de Santa Fé (um dos estilos do Bumba Meu Boi), sob o ritmo de pandeiros, tambores-onça e matracas.
Em um dos intervalos das mesas de diálogo, a luta das mulheres negras ficou marcada na performance de “Mulher Guerreira”, pela artista Luana Lopes.
Foto: Sue Anne Cursino/Ascom ADUA
*Reportagem publicada no Boletim nº 43 da ADUA
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