O maior crime ambiental em área urbana no mundo. Assim é classificado o caso da petroquímica Braskem em Maceió (AL). Com o alerta da Defesa Civil do eminente colapso da mina de sal-gema, foi decretado estado de emergência no município. A estimativa é abertura de uma cratera de até 150 metros de diâmetro que irá engolir parte da cidade. Em nota, o ANDES-SN aponta que tragédia “tem origem nas necessidades de predação extrativa do capital, operado pela Braskem, que coloca o lucro acima da vida”.
A área atingida fica no bairro do Mutange, próximo à Lagoa de Mundaú. O local está desabitado há alguns anos, desde que os problemas iniciaram. A mina tem 60% de sua área submersa na lagoa e a navegação também foi proibida. O problema já afetou 7% da cidade e deve aumentar, segundo informou ao UOL o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Dilson Ferreira.
Em carta aberta, o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem afirma que “a Salgema Indústrias Químicas [privatizada nos anos 1990] se instalou numa área ambientalmente imprópria para esse tipo de empreendimento, no litoral, numa área de restinga e de um importante estuário. Infelizmente, com a conivência do poder público, durante mais de 40 anos, a Braskem vem explorando o nosso solo de forma irresponsável e criminosa”.
Como nos crimes da mineradora Vale em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, o descaso com a população é o mesmo. Em Maceió, mais de 200 mil pessoas foram diretamente afetadas sem direito à indenização justa e participação nos acordos de compensação financeira. O Serviço Geológico do Brasil identificou a extração mineral como a responsável pelos danos.
O ANDES-SN, na nota, aponta que tragédia as práticas empresariais da Braskem geraram instabilidade no solo e abalos sísmicos em bairros populares da cidade. O documento destaca ainda a falta de assistência às famílias deslocadas, onde os valores concedidos a título de aluguel social não permitem “que as famílias possam enfrentar esse momento de suas vidas com um mínimo de dignidade e amparo”.
O Sindicato Nacional destaca ainda o dano ambiental causado. O colapso da mina da Braskem resultará em grave elevação do nível de salinidade da lagoa Mundaú, pondo em risco todo o ecossistema do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba, além da possibilidade de reações químicas entre os componentes dissolvidos na água.
Leia a nota do ANDES-SN na íntegra:
NOTA DE POSICIONAMENTO DO ANDES-SN SOBRE A TRAGÉDIA NA CIDADE DE MACEIÓ E EM OUTRAS REGIÕES DO ESTADO DE ALAGOAS
O ANDES-SN vem a público se posicionar diante de mais um capítulo da trágica história que acomete a cidade de Maceió e em outras regiões do Estado de Alagoas. Há décadas marcada pela atuação inescrupulosa do capital na extração subterrânea de sal-gema, ao menos desde 2018, sua população passou a experimentar o agravamento do maior atentado minerário em contexto urbano do planeta. Uma tragédia que tem origem nas necessidades de predação extrativa do capital, operado pela Braskem, que coloca o lucro acima da vida. Suas práticas empresariais geraram instabilidade no solo e abalos sísmicos em bairros populares da cidade, ensejando irreparáveis perdas para a classe trabalhadora.
Há dias, sabe-se de tremores acometendo porções dos bairros voltados para a franja lagunar da capital alagoana. Na última quarta-feira, dia 29 de novembro de 2023, órgãos da Defesa Civil e a empresa causadora do irreparável dano ambiental e social soltaram notas comunicando à população acerca do risco iminente de evento extremo, com colapso da mina 18. Cinco bairros sofreram afundamento, foi decretado estado de emergência e dezenas de milhares de atingidos e atingidas tiveram que deixar suas moradias e locais de trabalho.
Além da perda de residências de centenas de pessoas, tal colapso resultará em grave elevação do nível de salinidade da lagoa Mundaú. Como os alertas sobre o colapso remontam a 2018, o que vemos é uma evidente falência dos protocolos de emergência dos órgãos estatais. Não bastasse o episódio, traumático por si só, os órgãos governamentais recusam-se a conceder aluguéis sociais de modo que as famílias possam enfrentar esse momento de suas vidas com um mínimo de dignidade e amparo. O mesmo vale às famílias trabalhadoras, de forma mais ou menos precária, que viram em um estalar de dedos – ou em um estalar da terra – o cessar das perspectivas de reprodução de sua vida.
Exigimos que o Estado tome todas as medidas necessárias para responsabilizar a empresa que perpetrou tamanha tragédia – que segue inerte diante dos danos já mais do que evidentes à população trabalhadora e ao meio ambiente alagoano. Exigimos que o Estado tome todas as ações necessárias para mitigar o sofrimento dos moradores que experimentam as agruras que resultam da ação criminosa da Braskem.
O sal das lágrimas do povo de Maceió tem culpa da Braskem!
Brasília (DF), 1º de dezembro de 2023.
Diretoria do ANDES-Sindicato Nacional
Fontes: com informações do ANDESN e da CSP-Conlutas
Foto: Wanessa Oliveira/Mídia Caeté
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