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  10/11/2023


Um chamado para “amazonizar” a luta de classes



 

Daisy Melo

 

Resgatando o ideário apresentado na Carta de Princípios da ADUA por uma universidade democrática, popular e amazônica, a Seção Sindical convidou o geógrafo e professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), campus Marabá, Bruno Malheiro, para o debate sobre e a partir da Amazônia. A mesa de debates “As Engrenagens do Capitalismo na Amazônia e as Lutas por Emancipação”, realizada no dia 27 de outubro, no auditório da entidade, fez parte das comemorações do aniversário de 44 anos da ADUA, completos no dia 28.

 

 “Nós estamos construindo parcerias e novas conexões, e quando a gente se conecta, nós, amazônidas, juntos, conseguimos uma interpretação consistente politicamente sobre a Amazônia, e uma ação a partir dela. Isso inaugura um novo momento.  A gente se coloca como referência; isso é importante de ser construído”, disse o docente da Unifesspa.

 

Malheiro fez em sua apresentação um alerta sobre o avanço feroz na região amazônica do que ele chama de um “capitalismo de guerra”, por basear-se numa necropolítica e necroeconomia. Em sua análise, o docente abordou a escolha dos últimos governos por uma economia focada nas commodities (soja, gado, petróleo, ferro etc.), em que a natureza é o principal negócio, os bens comuns são transformados em mercadoria e a Amazônia - como apresenta o docente - a “zona de sacrifício”.

 

Como método, esse capitalismo bélico utiliza a pilhagem e a dominação privada da terra. Em um gráfico, o geógrafo expôs a queda vertiginosa de 1995 a 2018 das homologações de Terras Indígenas (TIs) e das desapropriações para a reforma agrária, sustentada pela destruição contínua das políticas nessa área. Malheiro classifica como uma guerra contra a vida, que se utiliza da violência e deixa um rastro de devastação. É o que mostram os crescentes números do desmatamento e de assassinatos nas regiões por onde se expandem os negócios das commodities.

 

Essa escolha econômica tem trazido consequências nefastas socioambientais provocando o que Malheiro chama de “fratura metabólica” e que é sentida hoje no Brasil como, por exemplo, a maior vazante dos últimos 121 anos nos rios do Amazonas; a fumaça que tem tomado conta do Amazonas em setembro e outubro, resultado de desmatamento; e as enchentes que têm deixado um rastro de destruição no Sul do país, somente para citar os últimos eventos. “Fratura” essa que tem dimensões mais amplas configurando-se em uma crise climática global.

 

Em um segundo momento, Bruno abordou a forma como essa mesma Amazônia foi transformada em um “laboratório do autoritarismo”. O professor explicou que as bases espaciais que o sustentam trazem relação com as commodities e subjetividades como os modos de comer, ao promover as grandes redes atacadistas; o veneno na mesa etc.; de festejar, ao patrocinar eventos como feiras agropecuárias, cavalgadas e afins; de ouvir música, ao estimular o circuito do ritmo sertanejo; de defender a propriedade, quando se vê, por exemplo, a expansão dos clubes de tiro; e de adorar, com a teologia da prosperidade, que reforça a busca pelo sucesso e o individualismo.

 

Como evidências, o professor utiliza-se da sobreposição e do uso em paralelo de gráficos, que expõem a não ocasional relação, por exemplo, da expansão da soja, da pecuária, do desmatamento com o bolsonarismo na região, assim como o amplo crescimento dos clubes de tiro que, na Amazônia Legal, saíram de sete para 45 de 2015 a 2020. Neste último caso, Malheiro mostra como esses clubes se concentram, principalmente, próximos ao arco do desmatamento e estão localizados em municípios por onde se expandiu a soja, a pecuária e onde aumentaram o número de propriedades agrícolas que usam agrotóxicos.

 

Ao mesmo tempo, Bruno mostra a geografia do negacionismo ao correlacionar a taxa de mortalidade por covid-19 no país e o mapa eleitoral 2022 com a disputa presidencial entre Lula e Bolsonaro. De igual forma, evidencia a trama entre geografia da fé e bolsonarismo, que prega a individualização do sucesso, enfraquece o senso de comunidade e destrói as formas de solidariedade por meio da teologia da prosperidade.

 

Considerando essa conjuntura, chamou a atenção para uma urgente política baseada em pilares como: a construção da resistência ao consenso das commodities; a desmobilização das forças de sustentação do agronegócio que passam pelo Estado; a desestabilização da hegemonia da igreja; e a reestruturação das alianças com os espaços de luta concreta. Neste último item, Malheiro fez um chamado: “é preciso ‘amazonizar’ a luta de classes”.

 

 

O docente explica que o capitalismo de guerra é estruturado pelo domínio territorial, ou seja, o território é o centro da acumulação primitiva. Por isso, a luta de classes deve ser feita no e pelo território. “O centro das lutas anticapitalistas está nos territórios, a luta sindical precisa se associar às lutas por emancipação, nós temos um acúmulo de experiências de re-existência, o sindicato ainda não conseguiu se conectar com essas lutas, é preciso chegar próximo a quem resiste nos territórios”, afirma.

 

Esse é, portanto, o desafio central posto para a luta sindical: associar-se aos povos com uma trajetória de resistência - indígenas, ribeirinhos, quilombolas, assentados etc. Populações essas que acumulam um vasto histórico de luta por dignidade, que considera modos de vida plurais, étnico e ecologicamente; vida, não apenas humana, mas de um sistema vivo, considerando línguas e saberes que sustentam o mundo; e por território, espaço com condições materiais e energias vitais para a reprodução metabólica.  “Precisamos nos reconectar a esses saberes, com a terra, a caminhar com o mundo e não contra ele”.

 

A apresentação de Malheiro é baseada em seus últimos estudos registrados em dois livros “Horizontes amazônicos para repensar o Brasil e o mundo” (2021) e “Geografias do Bolsonarismo” (2023). A palestra foi transmitida pelo canal da ADUA no YouTube e pode ser assistida aqui.



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