“Eu não posso dizer que a luta armada é inviável no mundo inteiro, mas no mundo que eu conheço ela não é mais. Hoje, a revolução passa por transformações na cultura e, principalmente, na educação”.
Foi esta a mensagem que o escritor italiano Cesare Battisti, preso desde março de 2007 na penitenciária da Papuda, em Brasília, deixou ao portal do Andes-SN durante visita realizada por jornalistas de veículos de comunicação progressistas nesta semana.
Battisti integrou o Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), grupo que optou pela luta armada durante a década de 70 na Itália, período da ditadura militar. Condenado à revelia, foi obrigado a fugir e, exilado na França, tornou-se um renomado escritor. Em junho de 2004, a pedido do governo italiano - já comandado por Silvio Berlusconi - e sem a proteção da chamada “Doutrina Mitterrand” na França, o Tribunal de Apelação de Paris autorizou sua extradição para seu país natal. Fugiu novamente e acabou preso no Rio de Janeiro, em março de 2007.
Em 2009, o então ministro Tarso Genro (Justiça) concedeu refúgio político ao ativista. Em novembro do mesmo ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou a decisão, mas determinou que a palavra final caberia ao ex-presidente Lula – que, no último dia de seu mandato, negou a extradição.
Após a decisão de Lula, a defesa do italiano entrou com o pedido para que ele fosse solto. O presidente do STF, Cezar Peluso, porém, negou a petição e determinou que todos os pedidos relativos ao processo fossem encaminhados para o relator Gilmar Mendes - que deverá levar o assunto ao plenário do tribunal no início de fevereiro.
“Estou sendo perseguido pelo Judiciário brasileiro e pelo Estado italiano. Não existe país no mundo em que a decisão do Executivo seja menor que a do Judiciário. Para mim, Peluso é doente ou desonesto”, pontuou.
Sobre a imagem construída pela mídia brasileira, Battisti disse estar traumatizado. “Sempre que vejo alguma notícia, fico em um estado semi-consciente. Fabricaram um monstro que não tem nada a ver comigo”, desabafou. “Meus inimigos são os que querem esconder os anos de chumbo. A mídia e o governo italianos, e o Judiciário e parte da mídia brasileira, fazem de tudo para não colocar os fatos no contexto histórico”.
Militância intelectual
Battisti entende que a projeção que ganhou como escritor o ajudou a denunciar questões políticas importantes relacionadas aos regimes de exceção na Itália e em outros países. “Sou um escritor de temas sociais. Nunca fiquei fora da política e é por isso que me perseguem. Se eu não tivesse imagem pública como escritor, seria mais um”.
Ao falar sobre o futuro, ele revela que não abrirá mão da luta por justiça social através de seu trabalho intelectual. “Não sei fazer outra coisa além de escrever e trabalhar com coletividades. Pretendo, quando sair, fazer um trabalho social a partir da escrita”.
Apoio da comunidade acadêmica
Nesta semana, os delegados e delegadas do 31º Congresso Nacional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), reunidos em Brasilia (DF), manifestaram em moção o apoio a Battisti e exigiram sua imediata liberdade.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) Honestino Guimarães, da Universidade de Brasília (UnB), também divulgou manifesto público em favor da permanência do escritor no Brasil.
Fonte: ANDES-SN |