Por Lucas Milhomens
A Amazônia ainda é um mistério para muita gente. Seu gigantismo, diversidade e complexidade intimidam e provocam. Sua história social e econômica é repleta de contrastes, passando por séculos de uma ocupação colonial caracterizada pelo abandono governamental, até chegar, na segunda metade de 1800, como uma das regiões mais importantes para o capitalismo emergente, ávido por uma substância essencial que impulsionaria a economia mundializada: a borracha.
As políticas governamentais que se sucederam foram um misto de incompetência e continuidade do abandono estrutural relegado à região, incentivando milhares de pessoas a se deslocarem – principalmente do Nordeste brasileiro – para a Amazônia, como mão de obra descartável destinada à extração do látex, os “peões da borracha”. Décadas depois, com a Ditadura Civil-Militar, governo e empresariado definem um novo marco histórico para a região, materializado no neocolonialismo da produção de commodities. Grandes obras de infraestrutura são erguidas, dentre elas uma das mais simbólicas, a rodovia Transamazônica (BR-230), rasgando o Brasil do Nordeste ao Norte.
Todos esses fatos não aconteceram tranquilamente. Desde sempre a História da Amazônia é também de conflitos e lutas, e é sobre essas questões as quais se debruçam o livro Amazônia e Movimentos Sociais: diálogos entre a cidade e a floresta (Editora da Universidade Federal do Amazonas - Edua). Organizado por mim e com a participação de pesquisadores de alto nível, o livro mergulha em importantes temas relacionados a uma pergunta central: quais os movimentos sociais da Amazônia hoje, suas características, bandeiras, estratégias, visões e propostas?
Como tentativa de resposta a essas questões, os capítulos que compõem a obra abordam desde a formação social, histórica e econômica da Amazônia, passando pelo debate sobre as grandes obras construídas na região (e seus diversos impactos), até as organizações e movimentos sociais que surgiram neste contexto e sua importância nos grandes debates socioambientais e políticos do século 21.
O livro foi concebido na pandemia de Covid-19. Não à toa a obra é dedicada in memoriam a um de seus autores, o professor da Ufam, Luiz Fernando de Souza Santos, uma das milhares de vítimas da necropolítica executada pelo governo federal e seu congênere no estado.
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