Data: 12/06/2015
Membros do movimento estudantil que protagonizaram um protesto contra o corte de verbas da Educação, nesta semana, na Reitoria da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), se reuniram no hall do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) com o vice-reitor, Edinaldo Lima, pró-reitores e o prefeito do campus para discutir a pauta apresentada pelos discentes e as propostas da administração superior da instituição às demandas dos estudantes. O encontro ocorreu nesta quinta-feira (11).
A construção de uma cozinha no setor Norte da universidade, segundo ponto da pauta do movimento, foi o que causou a maior divergência entre a administração e os cerca de 100 estudantes presentes. Tema polêmico e pauta recorrente dos universitários, em virtude das condições de preparo dos alimentos e de transporte da refeição, os estudantes solicitam que a alimentação servida no Restaurante Universitário (RU) do setor Norte seja preparada em uma cozinha no próprio local. Atualmente, o cardápio é preparado no setor Sul e os itens transportados em Kombi sem refrigeração.
Designado para falar sobre o problema, o prefeito do campus, professor Atlas Bacelar, destacou que a construção de uma cozinha no RU do setor Norte impactaria no valor da comida servida aos discentes, sendo menos oneroso centralizar a produção e efetuar o abastecimento. Possíveis impactos ambientais também foram apontados por Bacelar como obstáculo para o atendimento à reivindicação.
“Colocar dois centros aumenta custos e essa não é a nossa ideia. Então a estrutura para o setor sul que inclui a construção do restaurante universitário juntamente com a cantina está sendo projetada. A principal discussão é o local, porque nós estamos preocupados com o impacto ambiental, que hoje é um problema, porque para construir aqui temos que desmatar”, disse.
Contrários ao discurso de que a construção da cozinha causaria danos ao meio ambiente, uma vez que a utilização do prédio para a captação de energia solar e de água da chuva são medidas viáveis de compensação, os alunos questionaram a administração superior sobre a inexistência de construções sustentáveis na Ufam, apesar dos seis meses de sol característicos da região.
A abrangência do RU do setor Norte, responsável por atender todas as unidades acadêmicas, enquanto o do setor Sul fornece alimentação para um número limitado de pessoas, também foi argumentada pelos discentes como justificativa para o pedido. Os estudantes também avaliam que o transporte diário do alimento entre os setores representa um aumento de gastos ao invés de uma redução, como informado pela Prefeitura do Campus.
Representante da Assembleia Nacional dos Estudantes-Livre (Anel) em Manaus e aluna do curso de Direito, Débora Massulo relembrou a conquista alcançada pelos estudantes de retirar o RU do setor Norte das dependências de um antigo banheiro da Faculdade de Estudos Sociais (FES) e criticou a falta infraestrutura do novo RU, que após anos em construção, ainda não tem capacidade suficiente para atender o número de alunos.
“Nós queremos comer uma comida de qualidade. Convido inclusive vocês a irem almoçar no restaurante universitário, hoje [nesta quinta]. É nojento comer aquele peixe pitiú com vatapá frio. É desumano. Qualquer RU de qualquer universidade do Brasil que se preze tem uma cozinha. É uma pauta inclusive dos trabalhadores da construção civil que as marmitas sejam substituídas por refeições preparadas em cozinhas no próprio local de trabalho. E nós queremos também ter esse direito assegurado. Nós não queremos uma marmita indireta do mini-campus [atual setor Sul]”, criticou.
Dois encaminhamentos foram deliberados com o objetivo de equacionar os problemas de alimentação dos discentes: a realização de uma reuniões entre a Pró-reitoria de Gestão de Pessoas, a empresa que fornece a alimentação para o restaurante e os alunos. Uma delas ocorreu nesta sexta-feira (12). A próxima está agendada para terça-feira (16), às 15h, também no ICHL, para discutir a viabilidade de construção de uma cozinha no setor Norte.
Creche Universitária
Em resposta à outra reivindicação dos estudantes, a construção de uma creche universitária, a responsável pela assistência estudantil, a pró-reitora de Gestão de Pessoas Kátia Thomé propôs, como solução em curto prazo, a concessão de auxílio-creche aos estudantes que não têm com quem deixar os filhos, enquanto um estudo de viabilidade da obra é realizado.
A favor da realização também de um levantamento sobre a demanda por creche na Ufam e do perfil dos discentes que precisam do benefício, a pró-reitora destacou que o orçamento existente para esta finalidade é um dos aspectos que precisam ser levados em consideração. “Eu não posso propor a construção de uma a creche se eu não tenho a realidade de pessoas que efetivamente necessitam, porque a creche se estende também aos homens. Ou seja, o valor do auxílio-creche é a nossa proposta imediatista, dentro do que nós podemos fazer com o nosso orçamento hoje. Às vezes, o auxílio pode ser muito mais interessante para algumas pessoas do que trazer o filho para a creche”, afirmou.
Preocupados com a morosidade na identificação da demanda reprimida por vagas de creches, os estudantes deliberaram durante o encontro pela criação de uma comissão para que o calendário e o cronograma de pesquisas, encaminhamentos já realizados pelos discentes, durante reuniões do movimento, sejam retomados em parceria com o Departamento de Apoio ao Estudante (Daest).
A criação de uma escola de aplicação na qual os estudantes de licenciatura possam atuar, a melhoria nas condições dos laboratórios, cotas para minorias étnicas, informações concretas sobre o impacto na Ufam do corte de verbas orquestrado pelo governo federal e a luta contra a privatização do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), através da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) também estiveram entre os pontos debatidos pelo vice-reitor, pró-reitores e discentes.
Participaram também do encontro os pró-reitores Gilson Monteiro, da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propesp); e Mariomar Lima, da Pró-reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (Proplan); o pró-reitor adjunto Nelson Noronha, da Pró-reitoria de Ensino e Graduação (Proeg); e a diretora do Departamento de Finanças (Defin), Guiomar Ramos.
Fonte: ADUA |