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CAs da Ufam promovem debate sobre a greve



Data: 05/06/2015

Diferentemente do comportamento de representantes discentes que dificultaram os trabalhos na última Assembleia Geral dos docentes da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no dia 26 de maio, em flagrante desrespeito aos professores – a instância deliberativa é da categoria –, estudantes de alguns cursos da instituição convocaram o debate sobre a greve, posicionaram-se acerca do assunto e deram verdadeira aula de cidadania e democracia.

Foi assim na Assembleia dos Discentes de Psicologia, convocada pelo Centro Acadêmico do curso (CAPsi) e realizada no dia 26 de maio, pouco depois da suspensão da Assembleia dos professores. Após intenso debate, os estudantes aprovaram a greve com 36 votos a favor, três contrários e nenhuma abstenção. “A gente sentiu necessidade de se posicionar sobre o assunto. Com ou sem greve, as reivindicações continuam as mesmas”, disse a presidente do CAPsi, Ane Caroline Nunes.

De acordo com a estudante do 9º período, pesou na avaliação dos graduandos o fato de o curso não possuir infraestrutura adequada. “Não temos um prédio para a Faculdade de Psicologia, um espaço físico onde possamos fazer as nossas atividades. A clínica escola, utilizada por estudantes do estágio supervisionado – na etapa mais avançada do curso –, não tem um espaço apropriado para atendimento ao público interno e externo”, afirmou, enquanto concedia entrevista próximo à sala, na Faculdade de Ciências Agrárias (FCA), onde a turma costuma ter aula.

“Se houver ou não greve, a pauta de reivindicações e a luta vão continuar”, acrescenta a presidente do CAPsi. Ela destaca a realização da Assembleia como positiva e afirma que o coletivo fez uma avaliação madura diante dos posicionamentos distintos na defesa ou não do movimento paredista. “A gente precisava sair da Assembleia com alguma decisão e proposta de trabalho. Pra não ficar apenas no discurso de ser contra a greve e não propor nada, ou ainda de ser favorável a uma greve de esvaziamento e não fazer a discussão necessária”.

Por isso, a proposta aprovada é de greve de ocupação didática, com série de palestras, seminários e discussões, e ainda um calendário de atividades que inclua a criação de grupos de trabalhos para discutir as demandas levantadas. Para Ane, essa é uma maneira de repensar a formação política do estudante. “Antes de eu ter um diploma, quero ter uma formação de qualidade, com estrutura mínima de recursos, bolsa para pesquisa e com professores que sintam prazer no que estão fazendo”, afirmou. Ela acrescentou que a proposta é promover o “diálogo de qualidade”. “Fiquei um pouco chocada com o posicionamento de muitas pessoas ao não respeitar o outro e com um discurso muito agressivo”, lamentou, referindo-se ao recente debate sobre a greve.

Consulta

Outra organização estudantil que se empenhou em promover o posicionamento da categoria sobre o movimento paredista foi o Centro Acadêmico de Direito (CAD). Em consulta ao corpo discente, no dia 19 de maio, o CAD lançou a questão: “Você apoia, neste momento, uma greve de professores?” Do total de 261 alunos que participaram do pleito, quase 90% deles, 230 estudantes, responderam “não”. Outros 30 graduandos disseram “sim”. Houve ainda um voto nulo.

“Por mais que a gente tenha representatividade e legitimidade, a gente achou necessário fazer essa consulta direta. É uma forma de ter uma ideia clara e objetiva sobre o que pensa a maioria dos alunos em relação a esse ponto”, afirmou o presidente do CAD e estudante do 5º período, Felipe Chads, acrescentando que a iniciativa de consulta ou de realização de assembleia é utilizada sempre que surgem temas polêmicos.

“Ano passado, a gente fez uma consulta sobre uma resolução do Conselho Departamental [Condep] da Faculdade de Direito que proibia o uso de bermuda e sandália [nas dependências da FD] e os alunos sempre mostravam contrariedade em relação à norma. A maioria foi contrária e o CAD levou o pleito ao Condep. A norma foi reeditada e hoje, os alunos podem frequentar a Faculdade de bermuda”, destacou.

Sobre o posicionamento dos discentes a respeito de uma possível greve, o vice-presidente do CAD, Leonardo Souza, também estudante do 5º período, destacou as motivações que levaram ao resultado contra o movimento paredista. “A maioria dos professores não adere à greve. Além disso, a gente está no início do período e o calendário acadêmico pode ser cancelado, mesmo a Faculdade de Direito, não aderindo à greve. Outra coisa é a prova da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], que possui várias fases: temos alunos que já fizeram a primeira fase e não poderão fazer a segunda, caso a greve seja deflagrada, pois eles precisam estar no período seguinte. Teriam que esperar mais um ano e isso atrasa a vida de um formado em Direito”, explicou Souza.

O presidente do CAD avalia que houve melhorias nos últimos anos na FD e reconhece que ainda há o que avançar. “O curso de Direito já foi mais precário e antes de 2013 esteve em situação pior. Hoje, melhorou muito. O corpo docente teve um reforço muito grande, com a entrada de oito professores, e isso refletiu positivamente nas aulas. Quanto à estrutura, banheiros foram reformados e o prédio está sendo adaptado para atender deficientes visuais e físicos. Felizmente, melhorou muito e ainda tem o que caminhar”, definiu.

Debate

Outra experiência bem sucedida entre os estudantes foi o debate promovido pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CACS), no fim do mês de maio, sobre o indicativo de greve dos professores. Mais que posicionar-se contra ou a favor, a organização estudantil criou ambiente para esclarecimento dos discentes sobre a atual conjuntura. “O objetivo foi de desmistificar certos pensamentos relativos à propagação de um reacionarismo irracional nos corredores, sem levar em consideração a conjuntura político-econômica do país e das universidades”, afirmou o secretário do CACS, Ademir Oliveira Filho, estudante do 7º período de Ciências Sociais.

Ao fim do debate, os discentes tomaram como encaminhamento elaborar estratégias para serem adotadas durante uma possível deflagração de movimento paredista docente na Ufam. “Se for preciso encarar uma greve, que ela seja de ampla ocupação e participativa, seja por professores, técnicos ou alunos”, disse Filho. A preocupação da categoria é que não ocorra o “esvaziamento da universidade”. “Anunciamos esta pauta cientes de que o papel de um centro acadêmico não é deliberar suas ações arbitrariamente, mas ser um mediador de discussões e representante dos estudantes do curso em todas as esferas burocráticas e institucionais no âmbito acadêmico”, continuou.

De acordo com Ademir, os estudantes mantiveram ao longo do debate um posicionamento muito crítico em relação ao atual tratamento dispensado ao setor da educação brasileira. “Os cortes do governo já chegaram às universidades faz tempo. A extinção da Secretaria de Ciência e Tecnologia, o risco de se perder o Restaurante Universitário, por falta de pagamento da licitação, as péssimas condições de trabalho aos professores e técnicos, o congelamento de seus salários” são alguns exemplos citados pelo discente sobre a falta de autonomia da universidade e de uma conjuntura que preocupa.

Imagens: Arquivo ADUA e reprodução da página do CAD.

Fonte: ADUA



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