Data: 21/05/2015
Quase todos os dias o problema se repete e geralmente antes do pôr do sol: são cada vez mais frequentes as longas filas de veículos na via de acesso à saída do Campus Universitário da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a partir das 17h. O congestionamento, que tem causado irritação aos condutores que tentam deixar a universidade, pode ser explicado por, pelo menos, quatro fatores, entre eles, inclusive, o controle manual do semáforo em frente à sede da instituição.
É o que aponta o “Estudo sobre o comportamento dos fluxos externos da Ufam”, desenvolvido por estudantes e professores do curso de Engenharia de Produção, da Faculdade de Tecnologia da instituição. Baseado na “teoria das filas”, por meio da qual é possível demonstrar previamente o comportamento de um sistema que ofereça serviços cuja demanda cresce aleatoriamente, o estudo aponta ainda que o congestionamento é resultado ainda da falta de sinalização adequada e de espaço para atender grande fluxo de automóveis.
O levantamento dá conta ainda que a circulação de veículos pesados em horários inadequados agrava a situação nas proximidades da sede da Ufam. “O objetivo do estudo é entender os impactos dos congestionamentos na área de acesso à Ufam, para que futuramente venha servir como base para o entendimento do trânsito nessas vias”, disse o estudante do 7º período de Engenharia de Produção João Adelino Bittencourt.
A universidade acaba absorvendo parte da frota de veículos de Manaus, que só tem aumentado nos últimos cinco anos na capital. De acordo com dados do Sistema de Informações Governamentais do Amazonas (e-Siga) a frota da cidade, em abril deste ano, era de 676.564 veículos, 6,3% a mais que a quantidade registrada no mesmo período de 2014. Em abril de 2011, eram pouco mais de 500 mil.
Parcela dessa frota passa todos os dias em frente ao Campus, na avenida General Rodrigo Otávio, uma das principais via entre as zonas Sul, Centro-Sul e Leste da capital. Por isso, o estudo foi realizado em cinco trechos no entorno do acesso à Ufam, no período das 17h às 19h. Em todos eles, o número de veículos é intenso.
No período analisado, pior para quem deixa a universidade nesses dois intervalos de tempo: 17h30 e 17h40; e 18h20 e 18h30. Nesses dois “recortes” temporais, de doze verificados num total de duas horas, o tempo de espera médio, em virtude do controle manual, chega a ser de nove minutos, enquanto que o tempo de passagem dura apenas um minuto, de acordo com a pesquisa. O tempo de espera, das 17h às 19h, variou de 6 minutos e 43 segundos a 9 minutos e 5 segundos. Já o tempo de passagem ficou entre 55 segundos e 3 minutos e 16 segundos.
A quantidade média de carros nas frações de tempo analisadas supera a casa dos 100 veículos que tentam deixar o Campus. Para o estudante João Bittencourt, um dos desafios é encontrar soluções sem alterar o meio ambiente do Campus e sem transgredir as leis de trânsito. “A cidade está refletida em falta de planejamento no trânsito e conformidade dos usuários veiculares para criar gerações de alternativas para a melhoria do fluxo”, diz trecho da pesquisa apresentado pelo graduando.
Para o professor Nilson Barreiros, doutor em Engenharia de Produção e um dos orientadores da pesquisa, o problema pode ser amenizado com ajustes programáveis no sistema, observando também a rotina da universidade. “No período em que os alunos estão em sala de aula, há poucos carros entrando ou saindo na instituição. Nesse intervalo, se pode aumentar o tempo de escoamento. Já no período entre turnos, o fluxo de carros aumenta. É nesse momento que é necessário fazer um ajuste”, observa, afirmando que atualmente só se dá prioridade aos veículos oriundos do Distrito Industrial, da Tefé e do conjunto Atílio Andreazza. “São três abastecimentos que não comportam numa mesma caixa [Rodrigo Otávio]”, continuou.
Na avaliação do docente, uma das alternativas é recolocação de um retorno antes da Bola do Coroado. “De acordo com a pesquisa, o ideal seria ter um retorno quer seja na frente da universidade, quer seja na saída do [conjunto] Atílio Andreazza, pois quem sai desses dois locais e pretende voltar ao Japiim precisa fazer o retorno na Bola do Coroado. Seria uma solução para desafogar o trânsito na avenida Rodrigo Otávio”, explica. Outra solução é a realização de uma obra em frente ao Campus. “Fazer uma entrada para a Ufam por debaixo ou por cima da alça viária, mas trata-se de uma estrutura muito cara”, acrescenta.
Alternativas
A administradora Kelly Libório, 45, não enfrenta as longas filas no trânsito ao sair da Ufam. “Prefiro esperar que passe o horário do ‘rush’, pois acho muito estressante ficar tanto tempo no congestionamento”. Enquanto isso, ela permanece no seu local de trabalho e ou aproveita o tempo realizando alguma atividade nas imediações. “Dá pra usar o tempo atualizando as informações, fazendo uma caminhada ou até mesmo batendo papo com alguém”, destacou.
Para ela, “qualquer ação é mais vantajosa que perder em torno de uma hora dentro do carro”. Na avaliação da administradora, outro acesso à Ufam minimizaria o problema. “Outra saída já amenizaria bastante esse gargalo, mas as ações nesse sentido devem ser conjuntas. No meu caso, até usaria o transporte público para vir e deixar a universidade, se o mesmo fosse adequado e se o serviço prestado fosse de qualidade”.
Professor aposentado do Departamento de Filosofia da Ufam, Osvaldo Coelho, 79, discorda quanto à abertura de outro acesso ao campus. Para ele, uma das soluções é melhorar a infraestrutura viária. “Abrir outra estrada não é interessante. Uma alternativa, no meu entendimento, seria alargar essa saída da estrada para dar mais mobilidade aos veículos, sobretudo para os que vêm do setor norte do Campus”, afirmou.
O docente, que atuou na universidade desde a inauguração da sede, diz que o trânsito nas imediações da universidade só piora. “O que ocorre aqui dentro é o que acontece na cidade. Cada vez mais piora: a fiscalização vai reduzindo e você percebe um excesso de absurdo nas ruas”, ressaltou. Questionado se prefere enfrentar ou evitar o congestionamento na saída do Campus, ele diz que depende da necessidade. “Se fosse simplesmente pela opção, eu preferia evitar”, brinca.
Saiba mais:
Número de acidentes de trânsito na Ufam aumentou 34% em 2014
Fonte: ADUA |