A remessa abusiva de lucros das multinacionais a seus países de origem é, por si só, a denúncia cabal do modelo colonial de economia ainda vigente. E esse verdadeiro muro da vergonha da exploração capitalista internacional, acabada a guerra fria e instaurada a globalização da economia, insiste em se manter em pé, perpetuando a espoliação.
Os professores do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti e Célio Hiratuka, dizem à revista Carta Capital que isso decorre do fluxo ampliado de dinheiro público, do BNDES, a essas multinacionais. As remessas feitas ano passado equivalem a quase dez vezes os investimentos dessas filiais no país.
Diz o texto:
“As remessas das filiais automotivas para os debilitados caixas de suas matrizes atingiram a expressiva soma de US$ 4 bilhões, em 2010, o que representou um valor quase dez vezes maior do que os investimentos externos realizados por essas filiais no mesmo período (450 milhões de dólares). Repete-se, assim, o movimento já observado durante e após a crise. Se considerarmos o período 2008-2010, as remessas de lucros e dividendos das empresas automotivas totalizaram US$ 12,4 bilhões ante investimentos externos de apenas US$ 3,6 bilhões, o que significa um saldo líquido negativo de US$ 8,8 bilhões, em que pese o excelente desempenho das vendas e da produção na economia brasileira”.
Dizem mais os professores da Unicamp:
“Ao mesmo tempo em que as remessas ao exterior se elevaram, as empresas do setor automotivo tomaram financiamentos de US$ 8,7 bilhões (aproximadamente, R$ 16,3 bilhões) ao BNDES, no período 2008-2010. Por outro lado, a média anual de investimentos produtivos foi da ordem de US$ 2 bilhões para as montadoras e de US$ 1,3 bilhões para as autopeças nos últimos anos. Isso significa que quase a totalidade dos recursos necessários para financiar seus investimentos saiu dos cofres públicos, enquanto parcela expressiva dos lucros foi transferida para as matrizes”.
Os autores do artigo também chamam atenção para a falta de contrapartidas quando dos generosos financiamentos pelo BNDES. Mas a farra do dinheiro fácil e da renúncia fiscal é faca de dois gumes, alertam os professores, que concluem: “Sem mais e melhores investimentos, o País e o próprio setor automotivo correm sério risco de perder competitividade e reduzir quantitativa e qualitativamente sua inserção na rede corporativa global”.
Fonte: Adua
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