Após quatro anos de desgoverno que representaram décadas de retrocesso, o país inicia, em 2023, uma nova página de sua história política. Mudança no comando do governo federal e também na gestão da ADUA. A nova diretoria assumiu, no início de dezembro de 2022, com grandes desafios à vista. Um dos principais, a conquista da participação ativa da base nas atividades de luta, ponto sensível atualmente em todo o sindicalismo internacional.
Sobre esse e outros temas, o recém-eleito presidente, professor Jacob Paiva, respondeu à entrevista, representando a nova diretoria da Seção Sindical, que fica à frente da entidade até 2024. Jacob é professor da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e já atuou como diretor da ADUA durante os biênios 2008-2010; 2000-2002 e 1992-1994.
ADUA: Depois de quatro anos sob o desgoverno fascista de Jair Bolsonaro, há muito a ser feito na luta sindical. Quais os principais desafios da nova diretoria da ADUA nesse próximo biênio no ponto de vista da Educação Pública, do Serviço Público e da Carreira das e dos Docentes?
Considerando a difícil conjuntura vivida no contexto da pandemia e de um governo genocida, saímos de uma eleição de chapa única com um razoável índice de comparecimento dos sindicalizados e das sindicalizadas nas urnas para eleger a direção e o Conselho de Representantes das Unidades, o que pode indicar a vontade de retomarmos nossa organização coletiva com mais organicidade. A educação, a universidade e os serviços públicos em geral foram alvos de muita perseguição e de uma profunda desestruturação no governo de Jair Bolsonaro. Houve sucessivos cortes, contingenciamento no orçamento, ausência de reposição salarial, total desrespeito à autonomia e à democracia das universidades federais. Várias instituições federais de ensino correm o risco de não iniciar os próximos semestres (2023). Esta grave situação torna-se mais trágica quando somada às situações sociais mais gerais que afetam a comunidade universitária, especialmente os estudantes, como desemprego, subemprego, problemas de saúde pós-pandemia, inflação alta, violência urbana e dentro das universidades. Precisaremos construir uma forte unidade entre os três segmentos, docentes, técnicos administrativos e discentes, para respondermos à altura a este brutal processo de ataque às condições de trabalho, de ensino e a própria existência das instituições federais.
ADUA: Muito tem se discutido sobre uma crise no sindicalismo mundial. Como você analisa o trabalho de base feito atualmente? E o que precisa ser melhorado?
A crise do sindicalismo classista e combativo tem origem em diversos motivos, entre os quais destacamos a reestruturação produtiva no mundo do trabalho, a dinâmica da nova ordem mundial e da geopolítica resultante das ações imperialistas dos países das economias centrais do capitalismo, o fim das grandes utopias e as contendas ideológicas das esquerdas, a emergência de governos de conciliação de classe, a capitulação ideológica de setores do sindicalismo e também da intelectualidade. No âmbito das universidades isto se expressa na diminuição orçamentária, no estímulo à parceria público-privada, na produção de ciência e tecnologia, mas também no ensino e na extensão, por meio de atividades extras remuneradas, também por meio de uma carreira docente ancorada numa perspectiva produtivista e com graves distorções remuneratórias entre as diferentes classes da carreira. Diante de tudo isso, o principal desafio continua ser o de criar um processo organizativo que se traduza em mais aproximação, mais participação e em mais compromisso de toda categoria com as lutas e as atividades que o Sindicato Nacional e a ADUA precisam desenvolver para intensificar ações mais ofensivas, visando reverter o quadro caótico herdado do governo fascista que está saindo e também para conquistar nossas reivindicações no futuro governo, constituído por uma frente de ampliado espectro político, que abriga partidos com proposições bastante contrárias às nossas bandeiras históricas.
ADUA: Em palestra promovida pela ADUA em agosto de 2022, o professor Luis Eduardo Acosta (UFRJ) falou sobre o desafio de se ter uma Universidade verdadeiramente popular. De que forma a ADUA pode contribuir neste processo?
Uma universidade pública efetivamente popular em nosso País tem que garantir o acesso, a permanência e o êxito dos setores que são a maioria da população brasileira. Sem a presença de mulheres, da população preta, dos povos indígenas, de pessoas da comunidade LGBTQIA+ e das pessoas deficientes, não vejo como possamos falar de uma universidade popular. Porém, precisamos criar novas formas de relação entre as universidades públicas e as necessidades da maioria da população brasileira, o que significa irmos além das atividades que já estamos realizamos , precisamos pensar em colocar cada vez mais novas ações nas localidades nas quais estão vivendo os setores mais espoliados e oprimidos da sociedade amazonense, pois foi nesses setores que, em grande medida, as forças mais reacionárias conseguiram conquistar uma base social para esse projeto social necrófilo, do qual, por mais paradoxal que possa parecer, esses setores são as principais vítimas. Ao mesmo tempo, enquanto sindicato, nos cabe participar, fomentar e apoiar todos os movimentos sociais representativos das lutas da parcela da classe trabalhadora que se encontra em situação de maior vulnerabilidade social.
ADUA: Em termos internos e estruturais, quais as propostas da nova diretoria para a ADUA?
Queremos ser uma diretoria executora das decisões emanadas de assembleias de base massivas e participativas; ampliar a mobilização e a participação da categoria nas diferentes atividades que pretendemos realizar; conquistar nossas colegas e nossos colegas para que compreendam que não existem saídas individualistas; e aprimorar as ações de defesa política e jurídica da categoria. Também queremos pensar ações para defesa da saúde da categoria; aperfeiçoar o processo de participação democrática no contexto de uma universidade que é multicampi; e trazer os aposentados e aposentadas para participar mais da vida da ADUA. Enfim, queremos continuar lutando pelo projeto de universidade pública defendido pelo movimento docente organizado no ANDES-SN, sem deixar de fazer solidariedade de classes junto aos movimentos sociais que não arredam o pé das lutas para manter e ampliar direitos sociais, trabalhistas e humanos convergentes com a construção de uma sociedade verdadeiramente justa, igualitária, fraterna, solidária e livre.
Eleição contou com a participação de 37,36% dos sindicalizados e das sindicalizadas
A nova Diretoria da ADUA – Seção Sindical do ANDES-SN foi empossada no dia 1º de dezembro, e é composta também pelas professoras e pelos professores Aldair Andrade (IFCHS), como 1º vice-presidente; Maria Eliane Vasconcelos (ICSEZ), 2ª vice-presidente; Ana Cláudia Nogueira (IEAA), 1ª secretária; Jocélia Barbosa Nogueira (Faced), 2ª secretária; Antônio Vale da Costa (FIC), 1º tesoureiro; e Jorge Barros (FES), 2º tesoureiro.
Os e as docentes integraram a chapa “Resistir e Organizar as Lutas!”, eleita com 337 votos em votação realizada nos dias 16 e 17 de novembro de 2022. As eleições ocorreram presencialmente nos campi da Ufam em Manaus, Parintins, Itacoatiara, Coari, Humaitá e Benjamin Constant. No total, 37,36% dos sindicalizados e sindicalizadas compareceram às urnas.
Em seu discurso, Jacob Paiva destacou a necessidade de fortalecer o sindicato pela base. “Precisamos entender que não tem mais como a gente ‘salvar a nossa pele’, o orçamento da universidade, salário e carreira, se a nossa luta não estiver profundamente articulada com a luta dos movimentos sociais e populares que representam o que há de mais explorável e oprimido no capitalismo brasileiro”.
Durante a Assembleia Geral de Posse, o novo presidente da ADUA falou sobre a oportunidade de voltar ao comando da Seção Sindical. “Enquanto há vida, há esperança e, por isso, eu não conseguiria dizer ‘não’ nesse momento que a gente compreende que é preciso reconstruir as relações da categoria, e com a comunidade acadêmica como um todo: estudantes, docentes e técnicos, e com outros movimentos externos à universidade”.
Representantes de diversas entidades parceiras e movimentos populares participaram da cerimônia de posse. Entre elas estiveram o diretor do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica no Amazonas (Sinasefe-AM), Eurico Souza; o integrante da coordenação-geral do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Superior do Estado do Amazonas (Sintesam), Diego Castro; a integrante da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), Juliana Frota; o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos do Amazonas (Sintect-AM), Fábio Chaves; e o coordenador do Movimento de Luta pela Terra no Amazonas (MLTI-AM), Júlio César Ferraz.
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