Em dia histórico, o Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) revogou, na sexta-feira (19), o Título de Professor Honoris Causa concedido em 1967 ao ex-presidente Arthur da Costa e Silva e o Título de Doutor Honoris Causa, concedido em 1970 ao ex-presidente Emílio Garrastazu Médici. Foram 48 votos a favor, 1 contra e 1 abstenção. A petição de revogação foi encaminhada em janeiro deste ano pelo Coletivo Memória e Luta da UFRGS e representa um pedido de reparação histórica para o país e, em especial à categoria docente da UFRGS, que sofreu forte perseguição durante os anos de ditadura civil-militar.
A integrante do Coletivo Memória e Luta e professora da UFRGS, Cristina Carvalho, reforça que essa iniciativa do coletivo é sinal para que outras universidades também possam repor a justiça. Ela explica que na época que os títulos foram aprovados pela universidade, não havia democracia e autonomia na UFRGS, mas sim um coronel que acompanhava todas as reuniões do Conselho.
“A revogação dos títulos é uma coisa que honra a universidade, honra todos os professores, estudantes e técnicos que estão na universidade, que são democratas. E nós do Coletivo Memória e Luta consideramos que não tem como educar as novas gerações se não contarmos o que se passou, o que aconteceu, o que fizeram com as pessoas, se nós não lembrarmos quem foi assassinado por pensar diferente, por ser contra o governo. Agora que vivemos em democracia nós temos que ter coragem de repor a justiça”, afirma Cristina Carvalho.
A UFRGS é também uma das 20 Instituições de Ensino Superior que estão sob comando de reitor interventor, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, sem que tenha sido escolhido pela comunidade universitária.
A professora Cristina reitera que quanto mais as universidades recebem ataques, mas cresce a organização para defender as conquistas alcançadas.
“O fato de estarmos a viver tempos extremamente perigosos, de tentativa de demonizar a democracia, de reverter as conquistas democráticas, tão arduamente conseguidas, nos faz mexer, mover, e ir em defesa daquilo que quem sabe em democracia a gente não estava se dando conta do tanto que era tão importante. E que agora que a democracia está em risco é mais fácil se dar conta de que sem isso não é possível viver”.
Costa e Silva e Médici foram responsáveis por centenas de mortes, desaparecimentos e perseguições durante a ditadura.
Diversas organizações e docentes que sofreram expurgos e perseguições nos anos 1960 e 1970 apoiaram a proposição de revogação dos títulos como forma de reparação histórica.
Mais de 10 mil pessoas também apoiaram a causa por meio de abaixo-assinado criado pelo Coletivo Memória e Luta, para pressionar o Conselho Universitário. A retirada dos títulos foi ainda uma recomendação do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade, publicado em 2014, e indicação do Ministério Público Federal (MPF).
“A UFRGS se junta aos Conselhos Superiores da UFRJ e Unicamp, que já tomaram decisões semelhantes, e conclama as demais universidades brasileiras a construírem esse processo de reparação. A submissão e concessão de honrarias a ditadores é incompatível com a natureza científica, autônoma democrática e humanista da Universidade. Ditadura Nunca Mais!”, afirma a Seção Sindical do ANDES-SN na UFRGS.
O Coletivo “Memória e Luta - UFRGS” mantém atividades que busquem motivação da urgência de valorizar os sentidos da democracia no marco de 50 anos dos afastamentos sumários de dezenas de docentes da UFRGS, como o Projeto de Extensão “Memória: 50 anos dos Expurgos na UFRGS”, exposição de aquarelas que retratam o período ditatorial recente, publicação de livros e a conquista da revogação dos títulos que haviam sido injustamente concedidos aos ex-presidentes Médici e Costa e Silva.
Fontes: ADUA com informações do ANDES-SN, Coletivo Memória e Luta da UFRGS, Brasil de Fato, UFRGS, Sul 21.
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