Em mais um caso de violência no campo, famílias de agricultores do Lote 96, em Anapu (PA), sofreram um atentado na madrugada do dia 19 de agosto. A escola que atende crianças e jovens da comunidade foi incendiada e disparos foram efetuados contra as casas. A Diretoria da Regional Norte II do ANDES-SN e a Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas) emitiram notas de repúdio contra os ataques ao assentamento.
“Bolsonaro prometeu à grilagem de terra a regularização do agronegócio em terras públicas. Esse é o centro da questão no Lote 96. Terra do governo, ocupada pelo agronegócio e disputada por famílias em busca da reforma agrária pela pequena agricultura. Essa situação tende a piorar com o governo entrando em crise”, alerta o integrante licenciado do Setorial do Campo da CSP-Conlutas e assessor jurídico da CSP-Conlutas, Waldemir Soares.
Este é o segundo ataque de pistoleiros ao Lote 96 só neste ano, de acordo com informações da CSP-Conlutas. Em maio, duas casas foram incendiadas e as famílias ameaçadas de morte. Em junho, a comunidade denunciou que um novo ataque estava a caminho.
“Este novo ataque ao Lote 96 visa criar um clima de terror para desmobilizar as famílias na luta pela reforma agrária. A tendência é que os ataques se intensifiquem, com a possibilidade de derrota eleitoral do governo”, comenta Soares.
Em nota de repúdio, a Regional Norte II do ANDES-SN lembrou que este território tem sido há anos palco de violência contra as populações do campo que lutam pelo direito à terra. “Desde o assassinato da Irmã Dorothy Stang, em 2005, mais de dezenas de lutadores e lutadoras sucumbiram ante a ação do latifúndio. Entendemos que tais ataques compõem mecanismos de repressão e dominação por parte do agronegócio local e que encontra suporte na política ambiental adotada pelos Governos Federal e Estadual do Pará, que criminalizam os movimentos do campo e promovem a devastação da Amazônia”.
Situação jurídica
A violência no Lote 96 também é potencializada pelo “limbo jurídico” em que está o território. O fazendeiro que se dizia dono da área teve o título de propriedade cancelado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e o Ministério Público Federal (MPF) considera a área como pública federal.
Em julho, o Incra chegou a publicar no Diário Oficial da União (DOU) a criação de um Projeto de Assentamento para as famílias, mas dois dias após a publicação, a Superintendência Regional do Incra, no Oeste do Pará, pediu a anulação da portaria.
A indefinição da justiça coloca em risco dezenas de família de agricultores. Até o momento, o Estado ainda não garantiu a segurança da comunidade. “O governo do Pará vira as costas para as famílias em relação à segurança. A Polícia Federal não tem nenhum efetivo na área. E os grileiros estão se mobilizando cada vez mais, não só em Anapu, mas também em Brasília. É um momento de crise. Neste momento as famílias estão aterrorizadas”, explica Waldemir.
Apoio
A CSP-Conlutas reiterou o apoio à luta dos trabalhadores e trabalhadoras do Lote 96 e exigiu que a investigação sobre o caso. “É inadmissível que dezenas de famílias de agricultores tenham de conviver com a violência patrocinada pelo agronegócio em todo o país. Além de exigir a ação do poder público e dos governos, é fundamental que haja a punição aos agressores. Esta situação tem vitimado povos indígenas, quilombolas e pequenos agricultores em todo o Brasil, é preciso dar um basta”.
Acesse a moção assinada pela Central e entidades filiadas contra a violência no Lote 96 aqui
Acesse a nota de repúdio da Diretoria da Regional Norte II do ANDES-SN aqui
Fontes: CSP-Conlutas e Regional Norte II do ANDES-SN
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