Pensar propostas decoloniais de democratização das universidades. Essa foi a principal reflexão – e apresentada como uma pauta urgente – trazida durante a palestra “Universidade sob Ataque e a Defesa da Democracia”, ministrada pelo professor Luis Eduardo Acosta (UFRJ), a convite da ADUA. A palestra ocorreu na manhã do dia 19 de agosto, no auditório da Seção Sindical, em Manaus, e contou com a transmissão ao vivo pelo canal no YouTube da entidade.
Inicialmente, o docente explicou a importância de diferenciar ‘democracia’ de ‘democratização’. “No lugar de falar de democracia, falar de democratização. Fazer um debate da democratização da sociedade, das universidades. Fazer uma crítica ao uso da expressão ‘democracia’ no sentido liberal, e abrir um caminho para pensar a democracia no sentido que interessa aos trabalhadores, aos movimentos populares”.
Para tratar sobre esse processo de democratização, o professor resgata a análise do filósofo Álvaro Vieira Pinto, em “A Questão da Universidade” (1961), livro produzido a pedido da União Nacional dos Estudantes (UNE) sobre a Reforma Universitária, que Acosta classifica como uma análise sobre a universidade hipercrítica, mas necessária. “A palavra ‘democratização’ é usada apenas uma vez no livro, mas, ao reinterpretarmos as ideias, podemos traduzir como uma proposta de democratizar as universidades e a sociedade a partir do debate decolonial”.
A obra de Álvaro Vieira Pinto faz, portanto, um diagnóstico das universidades e explica por que a reforma é necessária, considerando, naquela época, o imperialismo. “Nós da América Latina, da África e da Ásia, que fomos colonizados pela Europa e sofremos a consequências, sabemos da necessidade de decolonizar o saber”, afirma.
O termo ‘decolonizar’ não é usado, mas as ideias do livro podem ser reinterpretadas, segundo Luis Acosta, em termos mais contemporâneos, considerando questões como racismo, capitalismo, feminismo e patriarcado, marcas que foram deixadas durante o período de colonização no Brasil e na América Latina. “É um debate pertinente a todos e sobretudo a essa Universidade, a essa região, pela questão indígena, dos povos originários”.
O palestrante explica, ainda, que, ao falar sobre uma ‘universidade alienada e alienante’, Álvaro Vieira Pinto aborda a importância de mudar a relação da universidade com a sociedade. “Não podemos reformar a universidade se não reformarmos a sociedade capitalista, é uma necessidade inseparável”.
Nesse aspecto, Acosta fala também do enfrentamento de que há dentro da universidade uma luta de classes, citando como exemplo os professores que são contra a Reforma Universitária, que não querem uma universidade popular, com negros, indígenas, etc, e que procuram a financeirização privada de seus trabalhos. “Fomos formados para não reconhecer a humanidade do outro”.
Perfil
Luis Eduardo Acosta possui graduação em Serviço Social pela Universidad de La República Oriental del Uruguay (1980), mestrado em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997) e doutorado em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006).
É professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi membro da Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ADUFRJ), tendo atuado como 1º vice-presidente no biênio 2011/2013 e como presidente no biênio 2009/2011. Foi 1º vice-presidente da Regional RJ do ANDES-SN de 2014-2016 e 1º vice-presidente do ANDES-SN de 2016-2018.
A palestra “Universidade sob Ataque e a Defesa da Democracia” fez parte do Seminário de Formação Sindical da ADUA, que contou ainda, no período da tarde, na programação com a reunião da diretoria da Seção Sindical e o Conselho de Representantes das Unidades (Crad).
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Fonte: ADUA
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