Dois professores do Polo Universitário de Rio das Ostras (Pura), da Universidade Federal Fluminense (UFF), receberam na última sexta-feira (31) os processos administrativos disciplinares (PAD) em decorrência do evento performático "Xereca Satânica", ocorrido no dia 28 de maio de 2014, no encerramento do “II Seminário sobre Corpo e Resistência” realizado no Pura. Jorge Vasconcellos, coordenador do projeto de pesquisa, e Ramiro Dulcich, diretor do Instituto de Humanidades e Saúde da UFF são alvos de sindicância instaurada pela reitoria, após a repercussão do evento na internet e na imprensa.
Organizado por um grupo de pesquisa cadastrado no CNPq, vinculado ao Departamento de Artes e Estudos Culturais (DAE), um dois cinco departamentos que compõem o Instituto de Humanidades e Saúde (RHS), o evento causou polêmica após a divulgação na internet de fotos de uma aluna que teve sua vagina costurada em uma performance no encerramento do seminário. O grupo foi acusado de estar realizando um “ritual satânico” nas dependências da instituição e ter cometido o crime de atentado ao pudor.
O ato performático tinha o intuito de questionar a liberdade ao próprio corpo e denunciar os estupros na região. Ramiro Dulcich explicou que o crescimento populacional, nos últimos anos, vinculado à exploração de petróleo no município foi desproporcional ao investimento em infraestrutura e segurança. “Temos um alto índice de estupros em Rio das Ostras. No ano passado, nos meses de setembro e outubro, ocorria um caso de estrupo a cada dois dias. A performance "Xereca Satânica" tinha o objetivo de denunciar esses casos e outras formas de violência à mulher na cidade”.
Perseguição
Após a repercussão do caso, a reitoria instaurou uma Comissão de Sindicância interna. O parecer final da comissão, divulgado em 1° de agosto, encaminhou a abertura de dois PAD: um contra os professores e outro contra os estudantes que participaram do evento. “Ao invés de abrir o diálogo, a reitoria assumiu o discurso da imprensa, abriu uma sindicância e nos tratou como criminosos”, afirmou Dulcich.
O professor disse ter ficado surpreso com a postura da reitoria e suspeita que talvez este caso “esteja sendo utilizado com outros fins”. “Nós apoiamos a greve dos servidores, reivindicamos as condições de trabalho: falta infraestrutura, aula em contêiner, entre outros”, ressaltou.
O diretor do Instituto de Humanidades e Saúde da UFF criticou o fato da instituição ter sido influenciada pela mídia que, segundo ele, agiu de forma sensacionalista. “O papel da administração foi limitado. Não ocorreu diálogo conosco. A UFF comprou o discurso, forneceu na página da universidade um canal de Ouvidoria para receber qualquer denúncia anônima sobre o caso, e criou uma Comissão de Sindicância interna, que deu um parecer muito ruim”. Ramiro Dulcich chamou a atenção para o fato de o professor que presidiu a sindicância ser o mesmo que fez o relatório final dos processos administrativos. No caso, o professor Sérgio Mendonça.
Nota de repúdio
Representantes das seções sindicais do ANDES-SN, reunidos no Setor das Instituições Federais de Ensino Superior do Sindicato Nacional (Ifes) no último dia 25 de outubro, manifestaram repúdio às punições e medidas disciplinares adotadas pela reitoria UFF. De acordo com a moção divulgada, a abertura de um processo administrativo disciplinar caracteriza uma “concepção policialesca, criminalizadora de expressões artísticas contra-hegemônica e despolitizadora do papel social da gestão nesta universidade”.
Fonte: ANDES-SN |