Juíza nega aborto legal à criança, procuradora agredida fisicamente no trabalho, mulher estuprada durante parto, aluna violentada em universidade, trabalhadoras da Caixa Econômica denunciam assédio. Esses são alguns casos recentes de violência contra as mulheres no Brasil que ganharam repercussão midiática. É urgente a luta contra toda forma de abuso contra as mulheres.
Somente em 2021, foram registradas 66.020 ocorrências de estupro de mulheres adultas e crianças, conforme o Anuário Brasileiro Sobre Segurança Pública. Considerando a subnotificação, o número de casos pode ser até quatro vezes maior, ou seja, cerca de 290 mil estupros por ano.
Os dados do Anuário, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontam ainda que a violência contra a mulher cresceu durante a pandemia da covid-19. Em 2021, o país registrou um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada sete horas. Outro fator influenciador é a cultura de ódio às mulheres alimentada, inclusive, por discursos do próprio presidente Jair Bolsonaro, desde quando ainda era deputado federal.
Em 2016, Bolsonaro disse à deputada Maria do Rosário (PT-RS), na Câmara, que ele só não a “estupraria” porque ela “não merecia”. Em 2017, já como presidente, durante palestra no Rio de Janeiro, ele proferiu uma fala misógina e machista. “Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher.”
Sem paz até no parto
Em caso mais recente, o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso em flagrante, no dia 11 de julho, no Hospital da Mulher Heloneida Studart, na Baixada Fluminense (RJ), por estuprar uma mulher durante o parto. O crime foi denunciado pela equipe de enfermeiras, que desconfiaram de Giovanni, e conseguiram gravar o momento em que ele comete o crime. A Polícia trabalha com a hipótese de há outras vítimas.
Giovanni foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de reclusão. O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu processo para expulsar o anestesista. A Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Saúde informaram que serão tomadas medidas administrativas.
Luta feminista
A Dirigente do Movimento Mulheres em Luta (MML) e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Marcela Azevedo, afirma que não é novidade que as mulheres sejam vítimas de violência obstétrica e são muitos os casos denunciados.
Dados de uma pesquisa divulgada, em janeiro deste ano, pelo jornal britânico The Guardian veiculou, revelam que 15% das mulheres são mais propensas a ter um resultado ruim no parto e 32% mais propensas a morrer quando um homem realiza a cirurgia.
Coautora do estudo, a e epidemiologista clínica do Universidade de Toronto, Angela Jerath, afirma que foi identificado, ainda, que as mulheres são registram mais complicações, reinternações hospitalares e morte, em comparação aos homens. “São dados preocupantes porque não deve haver diferença entre os sexos nos resultados dos pacientes, independentemente do sexo do cirurgião”.
Basta
No caso denunciado pelo jornal The Intercept, em junho deste ano, uma menina de 11 anos, vítima de estupro, teve o direito de aborto legal negado pela juíza Joana Ribeiro Zimmer, do estado de Santa Catarina. Somente após repercussão midiática do caso e intervenção do Ministério Público Federal (MPF), a criança pode realizar o procedimento com segurança em um hospital.
Em junho, o Ministério Público Federal abriu investigação contra o ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, por assédio sexual. Ele é um dos nomes mais próximos ao presidente Jair Bolsonaro, e havia assumido o cargo desde o início do governo.
Também em junho, uma procuradora foi agredida fisicamente por um colega de trabalho dentro da Prefeitura de Registro, no interior de São Paulo. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher de Registro.
No início de julho, uma estudante da Universidade de Brasília (UnB) denunciou estupro que sofreu dentro da própria universidade, na unidade Darcy Ribeiro, na Asa Norte.
A dirigente do MML comenta que o caso da mulher estuprada durante o parto causa um sentimento de repulsa e a percepção do quanto é difícil combater o machismo naturalizado e arraigado ao sistema capitalista. Marcela conclama todos e todas para o combate à objetificação do corpo da mulher.
“A reação dos movimentos de luta contra a opressão e violência contra as mulheres é de todas as entidades da classe trabalhadora e deve ser proporcional à tamanha barbárie. Não podemos ficar caladas diante disso, muito menos achar que depois de outubro não teremos mais problemas como esses. A revolta é pra agora! Chamamos todas as mulheres e homens trabalhadores a lutarem conosco imediatamente”.
Foto: Roberto Parizotti/ Fotos Públicas
Fonte: ADUA com informações Carta Capital, G1, CSP-Conlutas, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Correio Braziliense, Brasil de Fato, The Guardian
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