Uma das unidades da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), localizada atrás do prédio-sede do curso, no centro do Rio de Janeiro, tinha até o dia 17 de outubro para se retirar das instalações do prédio. No local, funcionam salas de aula e outras atividades que não cabem mais no prédio-sede.
De acordo com o diretor da Escola de Música da UFRJ, André Cardoso, no dia 17 de setembro ele recebeu a notícia, pela empresa Superpesa, de que uma grande parte das atividades da Unidade não poderia mais ser realizada no prédio, localizado há 14 anos nas imediações da histórica sede da rua do Passeio, na Lapa, Rio de Janeiro.
O diretor explica que a origem do problema seria um contrato, na qual a Universidade cedia espaço para a empresa Superpesa no Parque Tecnológico e, em troca, o curso de Música ocupava esse prédio da empresa na Lapa. “Em 2013, a direção do Parque Tecnológico informou que não manteria mais o contrato e o argumento foi que simplesmente não haveria sinergia entre o Parque e a empresa”, disse indignado. “Por uma decisão unilateral do Parque, uma das unidades mais antigas da UFRJ está ameaçada.”
Cardoso explica que a administração central se comprometeu a (re)mediar o conflito, promovendo uma chamada pública para alugar outro local, também próximo à Escola de Música. “Enquanto isso, estamos tentando junto à Procuradoria uma extensão do prazo para dezembro de 2015”, informou. “Não podemos dizer aos alunos que voltem depois, quando tudo estiver resolvido.”
A Congregação da Música deve encaminhar ao Conselho Universitário, nos próximos dias, um pedido de intervenção sobre a decisão do Parque Tecnológico. A perspectiva não é nada animadora, “caso essa situação não se reverta”, disse o diretor.
“O Centro da cidade está um canteiro de obras para todos os lados. Qualquer novo contrato que a universidade venha a assumir implicará em um ônus financeiro bem maior que o antigo contrato”, avaliou Cardoso. “E se tivermos de sair de lá, o que temos simplesmente não caberá aqui”,explicou.
Imóvel alugado
Em termos práticos, o desalojamento inviabiliza os cursos da Música. No prédio principal da Escola, patrimônio tombado da UFRJ na Rua do Passeio nº 98, funcionam salas administrativas e de concerto. A maior parte das aulas acontece em um pequeno anexo nos fundos da Escola e no imóvel alugado.
A estrutura de três andares na Lapa abriga 17 salas de aulas. “Por ser um prédio moderno, da década de 1980 talvez, nele temos mais estrutura. A parte elétrica suporta aparelhos de ar-condicionado, por exemplo”, observa André. Opera neste local, ainda, o setor da Escola de Música da UFRJ “onde todos os compositores do Rio de Janeiro registram as suas obras”. Segundo o diretor, equipamentos de vários cursos, como “praticamente tudo de sopro, violino, viola, harpa e bandolim”, estão lá. André lamenta a perda do ponto, se confirmada. “A Escola está em um lugar privilegiado para os músicos, ao lado da sala Cecília Meireles, do (Teatro) Municipal e do Circo Voador”.
Prédio-sede
Unidade que realizou sua expansão acadêmica depois de uma reforma curricular (“muito antes do Reuni”, observa André), a Música mantém seu funcionamento no sufoco. “Quando temos apresentações, pedimos aos funcionários que vão embora mais cedo e saímos apagando todas as luzes possíveis”, conta André, mostrando o gerador alugado para dias de espetáculos. A rede elétrica, antiga, não suporta além de 200 amperes.
A precariedade das estruturas fez o diretor interditar parte dos fundos da Escola. No ano passado, a caixa d’água simplesmente descolou do prédio. As infiltrações castigam o patrimônio histórico e a comunidade acadêmica. Mas, sobretudo, a falta de espaço incomoda: “Não temos sequer lugares para os professores guardarem suas coisas”. Todo material docente fica em um gaveteiro centenário. Antigas salas de aula são repartidas em três, quatro e até cinco pedaços, por divisórias. Não há isolamento acústico.
Fora do Reuni e do Plano Diretor, a Música tem planejada sua expansão a partir da construção de uma nova estrutura, nos fundos do prédio-sede. O projeto, elaborado por uma professora da FAU, Andrea Borde, já tem recursos para começar a primeira parte: a derrubada da parte condenada do edifício. A construção de uma subestação elétrica, no local, também faz parte dos planos.
Reitoria
A Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj-Seção Sindical do ANDES-SN) levou o problema da Música ao Consuni do último dia 9. Na ocasião, o reitor Carlos Levi disse que a matéria “é de preocupação da universidade há anos”. Segundo Levi, a Superpesa estaria ocupando “uma área grande no Parque, causando prejuízos pecuniários à UFRJ”. Haveria uma relação “desequilibrada” em termos de valorização imobiliária entre os terrenos do Fundão e do imóvel no Centro.
A pró-reitora de Gestão e Governança (PR6), Aracéli Ferreira, afirmou estar “particularmente tranquila” com a situação. Segundo a dirigente: “Não há nenhum risco de a Escola de Música ser desinstalada ou ser despejada. Isso está totalmente afastado”.
Aracéli confirmou o pedido de desocupação do imóvel onde está a Música pela empresa Superpesa, mas contemporizou com a afirmação de que “já entramos na Justiça e temos toda condição de manter a escola lá”. “Nós estamos atuando de forma bastante presente nessa questão”, disse.
De acordo com a pró-reitora, a universidade “está fazendo uma licitação para o aluguel de um espaço” para a Escola, “até porque a Música precisa sair (do prédio onde está) para que a reforma lá possa acontecer”.
*Com edição do ANDES-SN
Fonte: Adufrj-SSind |