Com o foco de apresentar informações para que os povos indígenas participem de maneira mais crítica e consciente do processo eleitoral, foi produzido o documento “Tem Aldeia na Política – Eleições 2022: o que está em jogo?”. O lançamento oficial do material irá ocorreu na tarde de quarta-feira (22), em formato remoto. A publicação foi elaborada pelo Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas (Foreeia) e pela Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (Famddi), com o apoio da ADUA.
“Nosso compromisso é o de suscitar, por meio desta publicação, o debate nas comunidades e organizações indígenas ajudando a refletir sobre a importância das eleições e como elas podem afetar os direitos indígenas”, explicam as entidades na apresentação do material, que é uma versão atualizada do texto publicado pelo Foreeia para as eleições de 2018.
A importância da informação e da discussão quando o assunto é eleição é ressaltada pelo professor do povo Mura, Mariomar Moreira de Souza. “Para que possamos realmente ter um apoio político devemos fazer uma pesquisa bem elaborada, fazer debates, reuniões com quem conhece, verificar as propostas de quem está sendo apontado. Temos visto todos os dias nossos direitos serem arrancados de nós e o que temos feito para que isso não aconteça?”, questiona.
Com 52 páginas, o documento apresenta um quadro com os possíveis aliados(as) à causa dos povos originários e aqueles(as) que sistematicamente atuam contra, além de analisar as candidaturas indígenas. Neste âmbito, Mariomar Souza questiona a falta de apoio dos próprios povos aos seus candidatos.
“Às vezes me pergunto: por que os parentes acreditam no branco e desacreditam no próprio parente? Tenho visto isso sempre, falo porque vivi isso na última campanha, onde escutava sempre: vocês não têm experiência, não tem dinheiro, não são conhecidos e isso traz uma certa frustração”, comenta o docente da Aldeia da Trincheira, no município de Autazes (AM), e que foi candidato a vice-prefeito na última eleição.
Por situações como essa, Mariomar ressalta que é fundamental o debate sobre política entre os indígenas para que se consiga o máximo de apoio às causas e à defesa dos direitos dos povos originários. “É preciso ser trabalhado isso com maior intensidade para que possamos tomar decisões certas na hora de decidir quem vai governar, fazer projetos e criar leis e nos defender. Isso deve acontecer desde os vereadores até o presidente. Olha esse que está aí, muitos indígenas apoiaram e o que ele está fazendo?”.
No documento, o Foreeia e a Famddi ressaltam também a necessidade de considerar os fatos ocorridos para a tomada de novas decisões. “Queremos aprender com a experiência das eleições passadas e fazer do ano de 2022 um momento importante de formação, aumentando nossa força política e a capacidade de luta do movimento indígena e criando, nos espaços de poder do Estado, um ambiente mais favorável aos nossos direitos e para o bem viver de todos e todas, tendo como referência os ideais e os objetivos da política indígena”, explicam as entidades.
Circulação
Lançado oficialmente na quarta-feira, com transmissão pelo canal no YouTube e pela página no Facebook do Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI), o “Tem Aldeia na Política” já está em circulação e em estudo por meio das diferentes atividades desenvolvidas por organizações do movimento indígena, segundo a diretora da ADUA, professora da Ufam e integrante da Famddi, Elciclei Faria.
“A distribuição será a mais ampla possível e até onde nossas pernas alcançarem e são pernas que andam muito tanto entre e por organizações indígenas e indigenistas quanto no interior das comunidades, por meio de professores e professoras da Educação Escolar Indígena no Amazonas, na Amazônia e no Brasil, por meio dos homens e das mulheres que militam na defesa dos direitos indígenas”, comentou a docente.
Além da entrega do material também está prevista a realização de encontros e rodas de conversa, para apresentar e discutir o documento e a importância da leitura individual e coletiva e do dialogar sobre o conteúdo da publicação e a sua relação com a realidade dos povos indígenas. “A proposta é perguntar: Por que as eleições de 2022 são relevantes para os indígenas do Brasil? E que o maior número possível dos povos pense nesse tema e responda”, disse Elciclei.
Dados
O documento traz também respostas para questionamentos como quais os princípios, ideais e principais objetivos comuns da política indígena e quais as posições dos partidos em relação a temas de interesses indígenas, como, por exemplo, o Projeto de Lei (PL) 191/2020, que trata sobre mineração em Terras Indígenas. O material aborda informações básicas sobre o processo eleitoral como a transferência do título de eleitor/a, data para filiação partidária e registro de candidatura e como fazer a escolha/indicação de candidato(a) indígena.
“Nossa ADUA faz parte da Famddi desde a sua criação, em 2018, no contexto de uma das Marchas Indígenas do Amazonas, coordenada pelo Foreeia. Entendemos que a luta da ADUA também se faz apoiando e participando de iniciativas como a proposição desse documento, para contribuir com a formação política de homens e mulheres indígenas para que continuem defendendo seus territórios, a Amazônia, a vida no planeta, das ações de saqueadores, mineradores, madeireiros... e pela política nefasta e negacionista do Estado brasileiro. A Amazônia continua viva, em grande parte, pela ação dos povos indígenas, os verdadeiros Guardiões da Floresta e das Águas”, afirmou a diretora da Seção Sindical.
Leia na íntegra a análise do professor Mariomar Souza aqui
Leia o “Tem Aldeia na Política – Eleições 2022: o que está em jogo?” aqui
Fotos: Famddi
Fonte: ADUA
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