A ADUA se soma ao clamor mundial e questiona: “Onde estão Dom e Bruno?” O jornalista e o indigenista, servidor licenciado da Funai, desapareceram, no dia 5 de junho, enquanto trabalhavam na região da Terra Indígena (TI) do Vale do Javari, no Amazonas. No dia 12, o Corpo de Bombeiros localizou objetos que, segundo a Polícia Federal, pertencem à dupla. As buscas realizadas por entidades oficiais e indígenas continuam.
O descaso do governo federal tem sido criticado pelas famílias dos desaparecidos e por entidades nacionais e internacionais. No dia 7, em entrevista, o presidente da república, Jair Bolsonaro, chegou a responsabilizar o jornalista e o indigenista pelo desaparecimento. "Duas pessoas apenas, em um barco, em uma região daquela, né, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados", afirmou.
Desde o início, o governo Bolsonaro é marcado por ataques aos povos indígenas, à Amazônia e ao meio ambiente. Sob o “bolsonarismo”, órgãos como a Funai e o Ibama foram desmontados, abrindo espaço para o avanço do desmatamento, da invasão de TIs e de explorações ilegais de mineradoras, madeireiras e do garimpo, facilitado, inclusive, o tráfico internacional de drogas.
Leia a nota da da ADUA:
Onde estão Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips?
A ADUA, Seção Sindical da categoria docente da Universidade Federal do Amazonas, filiada ao ANDES–Sindicato Nacional, faz sua a mesma pergunta que o Brasil e o Mundo continuam a fazer desde domingo, dia 05 de junho de 2022: ONDE ESTÃO BRUNO ARAÚJO PEREIRA E DOM PHILLIPS? E completa: o que fizeram do Estado brasileiro? Por que a Constituição, à qual todo poder deve se submeter, é avassalada pelas ameaças do autoritarismo e das arbitrariedades de toda ordem?
A considerar os diferentes graus de responsabilidade institucional, a resposta à pergunta sobre o desaparecimento de Bruno e Dom não é de outra instância senão do Estado brasileiro. Há mais de dois mil anos o filósofo, político e advogado Cícero, no livro “Sobre a República”, se questionava e respondia: “o que é, na verdade, um Estado, senão uma sociedade de direito?”
O Art. 1º da Constituição de 1988, a seguir integralmente reproduzido, é transparente em sua redação:
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político.
Parágrafo único: todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Estado democrático de direito não combina com ataque ou ameaça à dignidade da pessoa humana. Quando a justiça é fraca na defesa da vida, sobretudo da vida em estado de vulnerabilidade social, prevalece a lei da força.
Bruno Araújo Pereira (indigenista) e Dom Phillips (jornalista) uniram suas vidas, suas profissões, seu compromisso ético e humanitário para defender a Amazônia em seu ser social e natural. Os povos indígenas da Amazônia, notadamente os grupos isolados – e mais vulneráveis às forças do crime organizado –, sua população ribeirinha, sua megabiodiversidade, seus rios, lagos, igapós, igarapés, encontraram nas mentes e mãos de Bruno e Dom a salvaguarda ostensivamente negada pelo Estado brasileiro.
A omissão criminosa do Estado brasileiro diante da destruição da Amazônia e da violência contra seus povos originários favorece e incentiva as ações do crime organizado. A Amazônia, pelo grito de seus povos indígenas e populações ribeirinhas, de seus rios e floresta, fauna e flora, exige que o Estado brasileiro dê celeridade às investigações e que a justiça seja feita aos seus guardiões BRUNO ARAÚJO PEREIRA e DOM PHILLIPS.
Manaus (AM), 14 de junho de 2022
Diretoria da ADUA – Seção Sindical
Biênio 2020-2022
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