Para aldear a política e mobilizar a luta em defesa de seus direitos, mais de sete mil indígenas, de 200 povos, estão reunidos na 18ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília (DF). Diversas ações como plenárias, debates, palestras e manifestações são realizadas nos 10 dias de ocupação instalada no espaço cultural da Funarte. O ATL 2022 começou na segunda-feira (4) e será finalizado hoje (14), com plenárias e atos sobre a aliança dos movimentos sociais para fortalecer a luta indígena.
Na quarta (13), a pauta de luta foi dedicada ao tema da Educação Indígena, como Lei de Cotas, programas de bolsa permanência e sobre o sistema de educação escolar. A noite foi realizada a intervenção ‘A Queda do Céu’, unindo ancestralidade e tecnologia, para levar a mensagem de que os povos originários mantém resistência contra a agenda anti-indígena do governo. As manifestações empunhando maracás e entoando cantos em defesa de seus territórios têm marcado a presença indígena na capital federal.
Um dos pontos marcantes do ATL foi a manifestação na segunda (11), em frente ao Ministério de Minas e Energia (MME). Com caixas simbolizando barras de ouro e manchadas de tinta vermelha (em alusão a sangue) e com os corpos pintados de vermelho e lama, os e as indígenas protestaram contra o Projeto de Lei (PL) 191/2020, que legaliza a implantação de mineradoras e hidrelétricas em terras indígenas. Intervenções foram feitas com argila nas paredes no ministério.
No dia 9 de abril, com faixas, cartazes e palavras de ordem, milhares de indígenas somaram forças ao ato “Bolsonaro Nunca Mais”, na Esplanada dos Ministérios.
“Não tivemos nenhuma terra demarcada e homologada durante esse governo e isso é preocupante. Por isso, estamos mobilizados na perspectiva de que não haja esse desmonte com a aprovação dos PLs”, afirmou o cacique e prefeito de Pesqueira (PE), Marcos Xukuru.
A cacica Hosana, da Aldeia Aperoi, do povo Puruborá de Rondônia, afirma que Acampamento é um espaço importante para denunciar a política de Bolsonaro. “Esse governo genocida está nos matando. Quando ele não mata de um jeito, ela mata de outro, pois não podemos mais comer um pedaço de carne. O nosso peixe está contaminado, não existe mais caça porque estão acabando com as nossas florestas. Mas nós, povos indígenas, somos resistentes e vamos resistir muito mais! Fora Bolsonaro!”, disse.
A defesa da vida e dos territórios dos povos originários faz parte da bandeira de luta do ANDES-SN. O Sindicato Nacional esteve presente no ATL 2022, sendo representado pelas diretoras e professoras Francieli Rebelatto, Zuleide Queiroz, Neila Souza e Viviana Vermes.
Manifesto LGBTI+
Na segunda (11) ocorreu, ainda, a primeira plenária nacional LGBTI+ da história do acampamento. Na ocasião, foi lançado o manifesto “Colorindo a luta em defesa do território”, assinado pelos indígenas LGBTI+ brasileiros.
“Levando em consideração a realidade do Brasil — o país que mais mata pessoas travestis e transsexuais no mundo, registrando pelo menos uma morte por LGBTIfobia a cada 23 horas, — falar da existência de corpos indígenas LGBTI+, denunciar a dupla violência que sofremos cotidianamente, é falar de sobrevivência”, afirma trecho do manifesto.
Campanha indígena
Com objetivo de ampliar a representação dos povos nas instâncias dos poderes Legislativo e Executivo em todo o país, na terça (12), foi lançado o projeto “Campanha Indígena”, com anúncio de mais de 30 pré-candidaturas indígenas.
“Nós precisamos ocupar a política partidária para ocupar o poder. Por isso, um dos nossos objetivos centrais no ATL é incentivar candidaturas indígenas ao parlamento, seja nas assembleias legislativas estaduais, seja no Congresso Nacional. Chega da política da morte, nós chegamos em Brasília com a política da vida originária”, declarou a coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e pré-candidata à deputada federal por Santa Catarina, Kerexu Yxapyry,
Retomada de ações
Com o tema ‘Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política’, o ATL voltou a ser presencial após dois anos sendo realizada no formato online devido à pandemia da covid-19.
Participam da organização a Apib e mais sete organizações indígenas, sendo a Articulação dos povos e organizações indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoime), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), a Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani (Atyguasu), a Comissão Guarani Yvyrupa e a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste (Aspin Sudeste).
O histórico do ATL está disponível no site da Apib.
Fotos: Apib/Divulgação
Fontes: ADUA com informações da Apib e do ANDES-SN
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