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Em crise, indústrias começam a buscar inovação na academia



Ao mesmo tempo em que perde competitividade com os produtos importados, a indústria brasileira começa a recorrer às universidades em busca de inovação e de melhorias de produtividade, apesar de gargalos na legislação. Esse foi um dos destaques da mesa-redonda “Novos Materiais e Manufaturas – Indústrias” realizada no último dia da Reunião Regional da SBPC, no dia 7/6, no Parque Tecnológico de São José dos Campos.

O painel reuniu especialistas como Fernando Gallembeck, diretor do LN Nanotecnologia e professor titular da Unicamp, e Vahan Agopyan, vice-reitor da Universidade de São Paulo (USP), além de Maurício Pinheiro de Oliveira, da Unifesp.

No caso da USP, Agopyan disse que o relacionamento com a indústria hoje melhorou em relação aos últimos 10 anos. “Nunca a USP esteve tão próxima da indústria. Nunca houve tantas indústrias fazendo convênios com a USP”, informou.

Tal cenário, avalia Agopyan, reflete a crise pela qual atravessa a indústria, que vem perdendo espaço para os produtos estrangeiros. Segundo ele, algumas unidades da USP contam hoje mais de 500 convênios com a indústria. São projetos de pesquisa que envolvem o desenvolvimento de novos produtos, de novas tecnologias e de novos materiais. Outros são de aperfeiçoamento de produtos que já existem, enquanto outros são para adaptação de produtos existentes.

“Há uma nova geração de empresas brasileiras, de empreendedores mais jovens que perceberam que somente com inovação e tecnologia podem ser competitivos”, disse. Conforme Agopyan, os grandes investidores em inovação ainda são representados pelas indústrias tradicionais: nacionais e internacionais.

No olhar de Agopyan, as universidades estão aprendendo a trabalhar com a indústria. No caso das universidades paulistas, elas criaram um canal de comunicação com as empresas, especificamente as agências de inovação que hoje são facilitadoras desse tipo de atividade. É um cenário que vem ocorrendo há 10 anos.

Agilidade em ações e objetivos – Fernando Gallembeck, professor titular da Unicamp, concorda que houve avanço no relacionamento entre a universidade e empresa. Ele atesta, entretanto, que o Brasil precisa acelerar as ações para aumentar a competitividade da indústria no mercado internacional.

“Para isso, precisamos de mais recursos, que são apenas uma parte do jogo. Precisamos ter padrão de gastos dos recursos. Tem que ter dinheiro, que precisa ser bem gasto, e precisamos também de definição de objetivos, que no momento é o que mais falta.”
Na avaliação de Gallembeck, um dos grandes problemas do Brasil é a falta de objetivo na área de ciência, tecnologia e inovação. “Você sabe quais as grandes prioridades de ciência e tecnologia no Brasil? Eu não conheço ninguém que saiba disso. Existe política científica, mas é uma política que não tem um nível de aprofundamento e de detalhamento que precisaríamos, mas que outros países têm.”

Nesse caso, ele defende a continuidade e disposição para construir agendas de ciência e tecnologia. “Já participei da elaboração de dois planos de nanotecnologia, quando eu era diretor no MCT; um deles foi engavetado. E mais recentemente estou trabalhando em um programa que está sendo timidamente custeado”, disse. Ele refere-se ao desenvolvimento do laboratório nacional de nanotecnologia, para o qual os recursos orçados este ano representam apenas uma “fração” do que havia sido estabelecido. Isto é, devem ser desembolsados R$ 11 milhões, abaixo da metade dos R$ 25 milhões previstos inicialmente.

“Se os recursos vêm menos, não vai dar para chegar ao ponto que deveria chegar. Estamos numa velocidade que é incompatível com a dos parceiros internacionais. E assim vamos ficando para trás”, lamentou.

Gallembeck defendeu a ideia de desenvolver novos materiais capazes de satisfazer qualquer necessidade da população. Ele citou as experiências que vêm ocorrendo no CNPEM – Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, como a obtenção de materiais a partir de resíduos do agronegócio.

Sustentabilidade

Em outra ponta, o vice-reitor da USP, Vahan Agopyan, que é engenheiro, saiu em defesa do desenvolvimento de materiais a fim de assegurar a sustentabilidade da indústria da construção civil. “Essa indústria interage demais com o meio ambiente. Praticamente 50% dos recursos naturais são consumidos por ela. Então, novos materiais têm que ter esse papel importante de tornar a indústria da construção civil mais sustentável.”

Para Agopyan, a indústria do século XXI tem que ser altamente competitiva e, para isso, tem que aumentar a produtividade.

Fonte: Jornal da Ciência



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