Mais de 2 mil manifestantes ocuparam as ruas do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (08), na marcha em defesa da educação pública, laica e de qualidade. O ato marcou o início do Encontro Nacional de Educação (ENE). A atividade reuniu até domingo (10) representantes de diversos movimentos sindicais, sociais e populares, de todo o Brasil, que militam em defesa da educação pública. As vozes que ecoaram entre a Candelária e a Cinelândia denunciaram o descaso dos governos estaduais e federal com a atual política educacional do país.
Com palavras de ordem como “Educação não dá pra esperar, é 10% do PIB já!”, professores, estudantes, técnicos, funcionários e outras categorias que atuam no setor da educação, marcaram presença no ato. Com faixas, cartazes e bandeiras, percorreram a Avenida Rio Branco e receberam apoio da população por onde passavam.
Segundo os organizadores da atividade, trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro aderiram à atividade e deram ainda mais credibilidade à marcha. Liderança nacional da CSP-Conlutas, Mauro Puerro, comentou a importância do ENE na construção da unidade de luta pela educação pública. “Há 15 anos não tínhamos um evento similar. Parte das entidades do setor da educação, que lutavam por 10% do PIB foram cooptadas pelo governo. Juntar tantas entidades, desde profissionais do ciclo básico até os que atuam nas universidades, passando por movimentos sociais e populares, mostra a força da classe trabalhadora e dessa luta”, declarou Puerro.
Também representante de uma das entidades organizadoras da marcha, a presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira, fez crítica a propaganda enganosa do governo federal sobre o Plano Nacional de Educação (PNE). “Defendemos 10% do PIB já, exclusivamente para a educação pública. O governo faz um engodo. Fala em 10% do PIB, mas não cita que o recurso também é destinado às instituições privadas de ensino. Da mesma maneira também não explica de onde virá o dinheiro. Apenas informa que parte sairá do pré-sal”, denuncia Marinalva.
A luta contra a precarização do trabalho foi uma das bandeiras reivindicadas na atividade. Dirigente nacional do Sinasefe, Samanta Maciel, afirmou ser necessária a atenção especial às péssimas condições de funcionamento das escolas, que não garantem condições de trabalho aos profissionais e precarizam o ensino.
A representante da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (Anel), Janaína Oliveira, resgatou a história de luta da entidade, “que se confunde com a luta contra o Reuni”, e denunciou a dificuldade dos jovens de entrarem nas universidades públicas. “Muitos de nós somos, principalmente estudantes negros obrigados a estudar nas universidades privadas onde a educação é tratada como mercadoria. Queremos o acesso à universidade pública”.
Pela Esquerda da UNE, Débora Cavalcanti também denunciou a falta de acesso dos jovens negros e da periferia à universidade e reforçou a importância da luta pela manutenção dos jovens que entram na universidade. “Além do acesso, é necessário defender a permanência desses jovens na universidade, pois muitas vezes o trabalho, a necessidade do sustento da família impedem que continuem estudando, lhes tirando o direito fundamental à educação”, disse.
A dirigente da Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física (EXNEEF), Caroline Raquel, reafirmou a necessidade da unidade na luta pela educação pública gratuita e de qualidade. “Somente com a unidade dos que lutam por essa bandeira, podemos dar uma resposta aos ataques que vêm sofrendo a educação”.
Segundo Elernia Sobral, do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), “os assistentes sociais fazem parte do ENE. Estamos na resistência a esse governo que legitima a visão de educação como mercadoria. Só a aliança da classe trabalhadora na luta pode mudar essa situação”.
A construção da unificação da luta em defesa da educação pública de qualidade tem abrangência internacional. A ação desta sexta-feira contou com a participação do secretário geral do Sindicato de Educadores da Cisjordânia, Ahmad Mohamed, que parabenizou a luta dos professores pela educação, relatou as dificuldades atuais enfrentadas pelos palestinos e pediu apoio contra o genocídio cometido pelo exercito de Israel.
Outra presença internacional marcante foi a da professora Universidade Autônoma do México, Maria de La Luz Arriaga. A docente falou sobre a luta de estudantes e professores pela educação pública em seu país. “Enfrentamos os ataques daqueles que querem transformar a educação em mercadoria. Lutamos porque sabemos que a educação pública é um direito social”, afirmou.
Falaram também Cibele David e Nara Cladeira, duas representantes do SUD (Sindicato Unitário da Educação), entidade francesa de trabalhadores da área da Educação, ligada à União Sindical de Solidariedade, o Solidaires.
Estavam presentes diversas entidades que compõem outras lutas e categorias, mas que também têm a bandeira pela educação como uma de suas reivindicações. Entre elas, o MST, o MTST, Fasubra, ASSIBGE-SN e outras. Saudaram o ENE os candidatos nas eleições dos partidos PCB, PSOL e PSTU.
Já na Cinelândia, onde houve o ato final, o encerramento contou com atrações musicais, dando um toque cultural e de descontração à abertura do ENE, com apresentações de artistas e grupos musicais, tais como MC PH Lima, O Levante, Roda de Funk Fundamento, Samba do Buraco do Galo, entre outros grupos.
Encontro Nacional de Educação
O Encontro Nacional da Educação é organizado pelo Comitê Executivo Nacional da Campanha pelos 10% do PIB para a Educação Pública, Já!, que reúne entidades como o ANDES-SN, o Sinasefe, a CSP-Conlutas, a Anel, a Oposição de Esquerda da União Nacional dos Estudantes (UNE), a EXNEEF, o CFESS, entre outras entidades e movimentos sociais.
Segundo a comissão organizadora, o Encontro Nacional de Educação foi construído como uma alternativa a Conferência Nacional de Educação (Conae). As discussões têm como eixo central a crítica ao Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado pela presidente Dilma Rousseff, em junho deste ano. O documento reforça a política governista de privatização da educação que, invés repassar 10% do PIB exclusivamente para o ensino público, destina o recurso também para as empresas privadas. Assim, favorecendo a mercantilização da educação e a lógica do capital.
Fonte: ENE |