O Comitê Popular da Copa do Distrito Federal e o MTST, junto com representantes de movimentos sociais e sindicais, realizaram na terça-feira (27) mais um protesto contra as injustiças promovidas em nome da Copa do Mundo, a violência policial, pela demarcação das terras indígenas e pelo direito à moradia. Indígenas de mais de cem etnias, que estão em vigília na capital federal lutando, também integraram a manifestação, realizada no dia do tour da taça em Brasília.
A atividade reuniu cerca de quatro mil pessoas e foi duramente reprimida pela Polícia Militar, que fez uso da Cavalaria, bombas, gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha para impedir o livre direito de manifestação de ideias. O resultado: pelo menos nove pessoas feridas, entre elas seis indígenas e um repórter fotográfico, diversas crianças com os olhos queimados pelos gases, três manifestantes presos e mais uma cena de barbárie e repressão protagonizada pelo braço armado do Estado.
Em coletiva de imprensa realizada na sede do ANDES-SN nesta quarta-feira (28), os organizadores da manifestação informaram que o trajeto foi previamente acordado com a polícia, que havia garantido que os manifestantes poderiam seguir, sem repressão, da Rodoviária do Plano Piloto, pelo Eixo Monumental, até a área de acesso do estádio Mané Garrincha, ao lado do Tour da Taça, local onde os manifestantes encerrariam a passeata de maneira pacífica, sem inviabilizar o evento, fazendo as críticas pertinentes à Copa nesse espaço.
De acordo com Thiago Ávila, do Comitê Popular da Copa, a intenção era realizar, na Rodoviária, Tribunal Popular para julgar os crimes da FIFA, dos governos brasileiros e das patrocinadoras e depois ‘entregar a sentença’ em frente ao Mané Garrincha, em um a encenação lúdica, marca das manifestações do Comitê.
“A polícia sabia do trajeto e em negociação prévia com Comando da PM tínhamos acordado que seguiríamos pacificamente, fechando apenas duas faixas do Eixo. De repente, veio a Cavalaria, bombas, balas de borracha. Não sabemos de onde veio a ordem”, ressaltou.
Lideranças indígenas denunciaram que a violência experimentada ontem em Brasília, infelizmente, é um reflexo do tratamento recebido pelas diversas etnias nas ações de reintegração de posse e nas diligências da Polícia Federal, em suas terras. “O que vocês viram ontem é o que acontece diariamente em nossas casas”, disse Cretan, da etnia Kaigang.
Copa das Manifestações
Em relação ao policial ferido por uma flecha, o cacique Marcos Xukuru disse que o arco e a flecha, assim como demais instrumentos, fazem parte da vestimenta tradicional de rituais dos indígenas. “A gente estava dançando, à frente dos manifestantes, fazendo um ritual para evocar os encantados, para pedir proteção, quando vimos a Cavalaria. Seguimos avançando, dançando, os cavalos se assustaram e quando vimos uma cortina de fumaça das bombas”, relatou, dizendo não saber quem disparou a flecha. Segundo ele, a reação dos indígenas e dos demais manifestantes foi em legitima defesa, após serem surpreendidos pela violência da polícia. Os indígenas feridos exibiram seus machucados provocados por estilhaços de bombas e por balas de borracha.
Thiago Ávila ressaltou que a repressão aos movimentos e criminalização das lideranças não irá impedir as manifestações e que não é intenção dos movimentos impedir a realização da Copa do Mundo. “Copa vai existir, mas não aquela do orgulho brasileiro. E vai ter muita luta também. Vamos fazer a Copa das Manifestações”, disse.
Os movimentos anunciaram a realização uma nova jornada de mobilizações em Brasília, dia 30 de maio, sexta-feira, com concentração às 17h, no Museu da República rumo ao Estádio Nacional Mané Garrincha.
*Foto da manifestação: Mídia Ninja
Fonte: ANDES-SN |