Enquanto o mundo enfrenta o aumento de contaminação pela covid-19, o Brasil se perde em “apagão” de dados da saúde, com dificuldade no monitoramento epidemiológico, ou seja, sem informações exatas sobre o número de mortos e infectados(as) pelo novo coronavírus e a evolução da vacinação no país. Na segunda-feira (3), mais de 2,2 milhões de casos da covid-19 foram contabilizados no mundo, com dados alarmantes nos Estados Unidos, Canadá, Leste Europeu, Austrália e Argentina. A Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a utilizar o termo “tsunami” de contaminações, para se referir à alta taxa de contágio provocada pela variante Ômicron, que já foi detectada no Amazonas.
No Brasil, há pouca informação sobre a presença da nova variante Ômicron e imprecisão sobre os dados da covid-19 e da influenza, podendo gerar uma relativização dos casos, o que prejudica o planejamento de políticas públicas e o combate à pandemia.
“Sem dados não é possível fazer o mínimo monitoramento da dinâmica epidêmica, especialmente quando o mundo enfrenta uma forte e inédita disseminação viral, quase que exclusivamente atribuída à Ômicron, além é claro da variante Darwin, associada à gripe por Influenza. Sem informação não é possível planejar e muito menos avaliar o curso epidêmico e os recursos necessários ao seu enfrentamento. É inaceitável ficarmos quase 30 dias em tamanho apagão de dados, justamente na virada de ano ou em um momento de intensa circulação de pessoas e de toda sorte de vírus respiratórios”, ponderou o epidemiologista e pesquisador da Fundação Oswald Cruz Amazônia (Fiocruz-Amazônia), Jesem Orellana.
Especialistas denunciam o aumento nas taxas de internação por infecções respiratórias, porém, sem a testagem em massa e sem informações oficiais, os trabalhos dos(das) profissionais de saúde ficam comprometidos.
"Sem os dados, a gente não sabe se os casos de SRAG estão aumentando e se esses casos são covid ou influenza [gripe]", diz analista de dados e coordenador na Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt à equipe de reportagem do UOL.
Para Jesem Orellana, a falta de informação gera uma falsa sensação de tranquilidade e impacta ainda mais no controle epidemiológico nas cidades do interior do Amazonas.
“Limita a tomada de decisão e gera uma falsa sensação de tranquilidade na população. Certamente impacta ainda mais no interior, historicamente castigado pela baixa cobertura e qualidade dos seus dados, um problema duplo”, conclui.
Estratégia negacionista
Desde o início da pandemia, a estratégia do presidente Jair Bolsonaro é tentar impedir que a população tome conhecimento da real situação da doença no país, enraizando o negacionismo sobre o que ele chama de “gripezinha”, mas que já fez mais de 600 mil vítimas fatais só no Brasil.
Após a repercussão do apagão nos dados da saúde, o Ministério da Saúde alegou ter sofrido dois ataques de hacker em dezembro do ano passado.
Um dos impactos foi a saída do ar dos sites do Ministério da Saúde e ConecteSUS, causando instabilidade nas notificações de casos e mortes por covid-19 e andamento da campanha de vacinação.
As publicações oficiais também foram afetadas, como os boletins do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Fato que também atrapalha o consórcio de veículos de imprensa para a divulgação dos casos da covid-19.
Foto: Aílton de Freitas/ Agência O Globo
Fontes: ADUA com informações da CSP-Conlutas, Fiocruz-Amazonas, G1, Notícias UOL, Agência Brasil, Jornal da Band.
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