O Brasil continua na infeliz liderança mundial de homicídios de pessoas trans, de acordo com o relatório da Transgender Europe (TGEU), que monitora dados de instituições trans e LGBTQIA+. Dos 375 assassinatos registrados no mundo entre 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro deste ano, 125 foram no Brasil, o equivalente a 41% do total. Nesse mesmo período, houve um aumento de 7% de assassinatos de pessoas trans no mundo.
De acordo com o documento, 96% das pessoas assassinadas mundialmente eram mulheres trans ou pessoas transfeminadas; 58% eram profissionais do sexo; tinham idade média de 30 anos; 36% dos homicídios ocorreram na rua e 24% na casa da pessoa assassinada. Cerca de 70% de todos os assassinatos registrados ocorreram nas Américas Central e do Sul.
O relatório aponta uma tendência preocupante no que diz respeito às intersecções de misoginia, racismo, xenofobia e ódio contra as profissionais do sexo, com a maioria das vítimas sendo negras e mulheres trans migrantes e profissionais do sexo trans.
“Esses números são apenas um pequeno vislumbre da realidade no terreno. A maioria dos dados foi coletada de países com uma rede estabelecida de organizações trans e LGBTQIA+ que conduzem o monitoramento. Na maioria dos países, os dados não são coletados sistematicamente. A maioria dos casos continua sem notificação e, quando relatados, recebe muito pouca atenção”, afirma o documento da Transgender Europe.
Os dados do relatório apontam também que, nos últimos 13 anos, pelo menos 4.042 pessoas trans e de gêneros diversos foram assassinados entre 1º de janeiro de 2008 e 30 de setembro de 2021. No Brasil, os registros são coletados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), sem investimento do Estado. A Antra articula em todo o Brasil 127 instituições que desenvolvem ações para promoção da cidadania da população de travestis e transexuais.
O Setorial LGBTI da CSP-Conlutas – Central a qual a ADUA integra – denunciou o número crescente de assassinatos de pessoas trans no país, sendo a de pessoas negras e indígenas. A denúncia foi feita em órgãos nacionais de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); Comissão de Direitos Humanos (DH) da Câmara e do Senado; das Assembleias Legislativas dos Estados; comissões de DH das câmaras de vereadores das capitais e órgãos internacionais de DH da Organização das Nações Unidas (ONU), Organizacao dos Estados Americanos (OEA) e União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
A CSP-Conlutas pontuou que as mortes de pessoas trans no Brasil é “um verdadeiro genocídio que aumentou com a pandemia e com os discursos protofascistas do governo Bolsonaro e dos setores conservadores neopentecostais que apoiam este governo e que alimentam a LGBTfobia e, principalmente, a transfobia”.
Foto: Mídia Ninja/Reprodução
Fontes: Transgender Europe, Antra, ANDES-SN e CSP-Colutas
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