Há 47 anos, o Brasil vivia em intensa violência contra os indígenas. Torturas, abusos sexuais e escravidão vinham do setor que menos se esperava: o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), feito para defender os interesses indígenas. De acordo com relatório feito em 1967 e descoberto no ano passado, o governo brasileiro era o próprio malfeitor dos índios.
O “Relatório Figueiredo” foi elaborado por uma comissão instituída pela Presidência da República e percorreu os 130 Postos do SPI, em 18 estados do país. A investigação, coordenada por Jader Figueiredo, resultou em um documento com 7 mil páginas e um depoimento comovido com a desumana condição dos índios.
“É espantoso que existe na estrutura do país repartição que tenha descido a tão baixos padrões de decência. (...) Venderam-se crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. Torturas contra crianças e adultos, em monstruosos e lentos suplícios. (...) No caso da mulher, torna-se mais revoltante porque as condições eram mais desumanas”, consta um trecho do documento.
Dezenas de jovens índias e caboclas foram abusadas sexualmente por funcionários da SPI, muitas vezes dentro da própria repartição do governo. As mulheres feitas escravas davam à luz e, em vários casos, iam para o trabalho da roça um dia após o parto, proibidas de levarem consigo o recém-nascido.
Ação contra a tortura
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) pretende aprofundar investigações no tema. Maria Rita Kehl, coordenadora do grupo de Violações de Direitos Humanos contra Camponeses e Indígenas, criado em novembro de 2012, está visitando as tribos indígenas que sofreram com torturas feitas por funcionários do governo, entre 1946 a 1988. O objetivo é recolher o maior número de casos e anexá-los ao relatório final a ser entregue à Presidência da República.
Minas Gerais também terá investigações. No estado havia um reformatório para índios, que recebeu cerca de 100 prisioneiros de 11 estados do Brasil. O Reformatório Krenak, em Resplendor, no Vale do Rio Doce, foi criado em 1969 e era um centro de trabalhos forçados. São muitas as denúncias de assassinatos e torturas aos indígenas, que eram presos por saírem das normas adotadas pelo órgão do governo, como ir à cidade e tomar pinga, ou por reagirem a crimes cometidos contra a sua tribo.
Betinho Duarte, integrante da Comissão Estadual da Verdade, declara que o tema será investigado. Para ele, os ataques contra os índios são bem maiores do que os já relatados e, com a investigação, pode-se caminhar para “construir a verdadeira história do nosso povo”.
*Com edição do ANDES-SN
Fonte: Brasil de Fato |