Foto: Yanahin Matala Waurá/Amazônia Real/ 2018
O avanço do agronegócio, das madeireiras e mineradoras ilegais é uma forte ameaça à vida dos e das indígenas. A morte de duas crianças Yanomamis, sugadas por dragas de garimpo, no dia 12 de outubro, em Roraima; dois indígenas mortos a tiros na Reserva Indígena de Serrinha, no Rio Grande do Sul, no dia 16, e a tentativa de assassinato de um líder pataxó no dia 20 do mesmo mês, causaram indignação. Entidades em defesa dos direitos indígenas denunciam que essas situações são agravadas com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 187/2016, que visa permitir “atividades agropecuárias e florestais” em terras demarcadas, e a tentativa de aprovação do Marco Temporal, que contribui de forma efetiva para a insegurança dos povos indígenas.
“A cada dia se reafirma a abordagem de etnocídio e genocídio de povos indígenas no Brasil, principalmente no governo Bolsonaro. A liberação para ações deliberadas sem punição pelo agronegócio, por madeireiros e garimpeiros ilegais em terras indígenas promovem ações violentas contra esses povos em áreas de interesse e contam com vista grossa das autoridades locais alinhadas ao governo”, afirma a integrante da Secretaria Executiva Nacional, Gesa Corrêa de etnia Tupinambá.
Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a invasão de Terras Indígenas (TIs) aumentou. Até setembro de 2021, mais de 3 mil hectares de floresta foram destruídos pelo garimpo ilegal, representando um aumento de 44% em relação a dezembro de 2020. A entidade também afirma que existem cerca de 20 mil garimpeiros invadindo TIs.
Meninos dragados pelo garimpo
No dia 12 de outubro (Dia das Crianças), dois meninos Yanomamis, de 7 e 5 anos de idade, foram sugados por uma draga de extrair minério na região do rio Uraricuera, no município de Alto Alegre (RR).
A Hutukara Associação Yanomami (HAY) divulgou nota denunciando o crime. “A morte das duas crianças Yanomami é mais um triste resultado da presença do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que segue invadida por mais de 20 mil garimpeiros (...). O Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami se reuniu em setembro para trazer a voz da floresta, e já dissemos: o aumento da atividade garimpeira ilegal na Terra Indígena Yanomami está se refletindo em mais insegurança, violência, doenças, e morte para os Yanomami e Ye’kwana”.
Tortura e morte
Mais de 650 famílias e população total superior a 3 mil pessoas da TI Serrinha, no Rio Grande do Sul, vivem um cenário de intimidações, cárcere privado, tortura e assassinatos sem qualquer socorro do poder público. A indígena Vãngri Kainpang explicou em um vídeo divulgado no sábado (16), que esses crimes estão acontecendo pelo interesse na locação de terras para o agronegócio. A informação também foi confirmada em nota pela Organização Indígena Instituto Kaingáng (Inka), Apib e Conselho Indigenista Missionário Regional Sul (Cimi-Sul).
“(...) membros do Inka, mulheres, idosas e crianças, foram alvos das chamadas “transferências”, atos cruéis, coordenados a mando da liderança culturalmente corrompida do local onde indígenas são forçados a saírem de suas casas, abrindo mão de sua dignidade, muitos apenas com a própria roupa do corpo, com seus bens atirados em caminhões, debaixo de humilhações e sofrendo inclusive risco de morte como de fato ocorreu em Serrinha nesta data”, afirma trecho da nota.
Em nota, a Apib e a Articulação dos Povos Indígenas do Sul (Arpinsul) denunciaram a omissão do Governo Federal sobre as práticas criminosas de arrendamento cometidas em TIs do povo Kaingang.
Tentativa de assassinato
A Articulação dos Povos e Organização Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) usou as redes sociais para denunciar que, no dia 20, ocupantes de uma caminhonete Hilux e de cor prata, invadiram a aldeia Cahy (Território Pataxó Comexatibá) e jogaram propositalmente o veículo contra a motocicleta que era conduzida por um líder Pataxó, cujo nome foi preservado. O líder indígena já havia recebido ameaças, tendo o agressor ajuizado uma ação de reintegração de posse em desfavor da aldeia Cahy, na Subseção Judiciária da Justiça Federal de Teixeira de Freitas (BA). A articulação denunciou também que o delegado da Polícia Civil do Prado se negou a ouvir o depoimento da liderança indígena em um ato discriminatório e negligente.
Foto: Manifestação dos indígenas na Esplanada dos Ministérios, em 2018 (Foto: Yanahin Matala Waurá/Amazônia Real/ 2018)
Fontes: Com informações da CSP-Conlutas, ANDES-SN, utukara Associação Yanomami (HAY), Cimi, Apib, Apoinme e Anmiga.
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