O ministro da Educação, Milton Ribeiro, voltou a criticar o educador e patrono da Educação, Paulo Freire (1921-1997), e o livro "Pedagogia do Oprimido", principal obra freiriana. O episódio ocorreu durante audiência realizada, na quarta-feira (20), na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.
"Vimos a que pé chegou a educação pública brasileira quando abraçou de olhos fechados algumas pedagogias, que eu reputo (...) as evidências mostram que o modelo proposto nos últimos vinte anos foi um desastre em termos de educação brasileira. Essa é minha avaliação", respondeu Ribeiro ao ser questionado pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO) sobre as críticas feitas a Freire.
Alvo também de crítica do ministro, “Pedagogia do Oprimido” é, segundo um estudo publicado em 2016, a terceira obra acadêmica mais citada em trabalhos de ciências humanas no mundo.
"O senhor leu o livro dele ‘Pedagogia do Oprimido’? (...) Se for o caso eu faço questão de lhe dar de presente este livro. Eu li três vezes, e depois a gente pode conversar. Vale a pena fazer uma avaliação sem cores ideológicas porque eu fiz isso. Antes de assumir o ministério, tive esse cuidado. Por isso que eu falo: respeito, mas falo de acordo com minha convicção", questionou Milton Ribeiro o deputado.
Em setembro de 2020, o ministro criticou Paulo Freire e disse que o educador tentou incorporar o pensamento marxista à educação. “Eu desafio um professor e um acadêmico que venha me explicar onde ele quer chegar com as metáforas, com os valores. Ele transplanta valores do marxismo e tenta incluir dentro do ensino e da pedagogia”, disse na ocasião.
Na contramão do que defendia Paulo Freire que era uma educação com amor, Milton Ribeiro chegou a defender, em julho de 2020, educar as crianças com dor. "A correção é necessária pela cura. Não vai ser obtido por meios justos e métodos suaves. Talvez uma porcentagem aí muito pequena de criança precoce, superdotada, é que vai entender o seu argumento. Deve haver rigor, severidade. E vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim: deve sentir dor", afirmou o ministro na época.
Paulo Freire
O recifense Paulo Freire é inspiração para gerações de docentes e pesquisadores. Desenvolveu programas de alfabetização em diversos territórios, incluindo países da África, como Moçambique e Guiné-Bissau, e da América Latina, dentre os quais Chile e Nicarágua.
É o brasileiro mais laureado com títulos de doutor honoris causa no mundo, com homenagens de, pelo menos, 35 universidades, de diversos países. Chegou a lecionar como professor visitante na Universidade de Harvard. Entre 1989 e 1991, foi secretário da Educação de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina. Dessa forma, teve a chance de concretizar políticas públicas, entre elas o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), até hoje referência nacional. Se estivesse vivo, Freire completaria 100 anos em setembro deste ano.
Fontes: Agência Câmara, UOL, o Estado de São Paulo e O Tempo
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