O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Kopenawa, estava ministrando uma aula pública sobre o Movimento dos Povos Indígenas, no dia 30 de setembro, quando foi surpreendido por uma invasão de um grupo bolsonarista que passou a publicar vídeos e mensagens ofensivas ao líder indígena, aos (às) estudantes e aos (às) professores presentes na sala de aula virtual.
A fala de Dário Kopenawa, filho do xamã Davi Kopenawa, tratava-se de uma participação na disciplina Mídia, Política e Movimentos Sociais do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), ministrada pelos professores Vilso Santi, da UFRR, e Lucas Milhomens, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). O objetivo da aula era discutir a relação entre comunicação e atores políticos e sociais no contexto amazônico, com foco na atuação do movimento indígena no cenário atual do Brasil.
Ataque virtual
Cerca de 30 pessoas estavam assistindo à aula ao vivo pela plataforma Google Meet no momento da invasão pelo grupo bolsonarista. O ataque consistiu na transmissão de áudios e vídeos com músicas agressivas às mulheres e pessoas de esquerda, com frases obscenas e comentários ofensivos no chat da sala, assim como compartilhamento de frases em apoio ao presidente Bolsonaro.
"Esses ataques têm sido sistemáticos e orquestrados, há vários relatos na UFRR e em outras instituições de pessoas que estão fazendo seu trabalho nas disciplinas e que estão propondo discussões que fazem parte da construção de um saber e estas pessoas são impedidas do seu direito de trabalhar por gente que discorda do ponto de vista", contou o professor Vilso Santi.
Após o ataque, a aula foi transferida para outra sala virtual, mas apenas metade dos participantes conseguiu acessar o link e outros não retornaram por terem ficado nervosos com a agressão.
Pelo menos seis perfis foram identificados como possíveis autores dos ataques, sendo: Gabriel Imperador, Pedro Henrique, João, Flavio de Assis Santos, Caio Rodrigues e Isabella Rossi. O docente Vilso Santi registrou o boletim de ocorrência na Polícia Federal (PF) e encaminhou um dossiê sobre a invasão à coordenação do PPGCOM e à reitoria da UFRR, pois acredita que, mesmo em espaços virtuais, é importante que as instituições ofereçam segurança para docentes e discentes.
Democracia é resistência
“Como existe no cenário atual muita intolerância política, pessoas invadiram a aula e tentaram inviabilizar a atividade a partir de comentários racistas, preconceituosos, ofensas etc. Um modus operandi do que nós chamamos de milicianos digitais bolsonaristas e intolerantes, avessos ao diálogo, ao debate. Não existe debate com essas pessoas. Elas não querem ser confrontadas política, ideologicamente, intelectualmente, porque não existe argumento para elas. Então, elas tentam inviabilizar a partir do caos, a partir da intolerância e destilando ódio e preconceito a partir das suas intervenções”, afirmou o docencente Lucas Milhomens.
As atividades de discussão sobre comunicação, movimentos sociais, questões indígenas e políticas vão continuar, pois, segundo o professor da Ufam, esse tipo de reação de grupos bolsonaristas significa que os debates estão incomodando os que são avessos ao diálogo e a qualquer tipo de debate minimamente democrático. O docente reafirma que a universidade vai manter sua atividade de debate amplo, pois assim cumpre uma de suas funções que é viabilizar o debate democrático.
Foto: Victor Moriyama/ISA
Fonte: ADUA com informações da AMAZOOM - Observatório Cultural da Amazônia e do Caribe.
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