Cerca de 40 estudantes ocupam por tempo indeterminado a Reitoria da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) desde a última segunda-feira (17). Os alunos protestam contra a falta de estrutura e precarização da universidade. “A Unipampa nasce da expansão universitária e sofre todas as mazelas desta expansão. Não dá condições aos estudantes de permanecerem na universidade porque não tem restaurante universitário, opções de alimentação, água para consumo e nem espaço para os estudos”, afirma o 2º vice-presidente da Regional Rio Grande do Sul do ANDES-SN, Daniel Luiz Nedel, que participou da assembleia dos estudantes na madrugada de quarta-feira (19).
Nedel explica que a Unipampa é uma instituição multicampi – são 10 campi no total. A ocupação foi iniciada pelos estudantes do campus de Bagé, mas já conta com a representação de alunos dos campi de São Borja (localizado a 1000 quilômetros de Bagé) e de Jaguarão (44 quilômetros de distância). A previsão é que estudantes dos outros campi também integrem a ocupação. “O movimento começou no campus de Bagé porque é onde fica a Reitoria, localizada fora do campus, no centro da cidade”, diz.
A estudante Camila Soares, uma das coordenadoras do Comando de Ocupação, conta que o movimento divulgou um manifesto da ocupação e uma nota oficial encaminhada à imprensa para esclarecer à população e à comunidade acadêmica sobre os motivos da ocupação. Um abaixo-assinado, composto por cinco pautas de reivindicação, está pronto e será entregue à Reitoria na próxima sexta-feira (21), data provável de uma reunião com a Reitoria e os estudantes.
“As cinco pautas estão relacionadas à estrutura do campus. O prédio não tem abastecimento de água em todos os blocos, falta água nos bebedouros e nos banheiros, não tem habite-se e está atrasado há cinco anos, ou seja, os alunos têm aula dentro de uma obra; temos problemas com a rede elétrica, as salas têm ar condicionado, mas a rede não suporta a quantidade de equipamentos; o RU está pronto, mas não foi aberto; temos problemas com a manutenção da área externa do campus, como gramado e iluminação. Todas as vezes que precisa cortar grama tem que abrir uma licitação e, como estamos em uma área de reservas, já soubemos de cachorros que foram picados por cobras; e não temos uma área para estudos e convivência, o único espaço disponível é a biblioteca”. A estudante afirma que a situação se repete nos 10 campi da Unipampa. “O prédio ainda está na fase 1 de 3, com várias obras inacabadas, sem previsão de término. Não há a menor condição de estudar”, complementa Nedel.
O diretor do ANDES-SN ressalta ainda que o problema enfrentado pela universidade, criada em 2007, é estrutural. “Estes estudantes estiveram conosco na greve de 2012 e acompanharam todo o movimento do ANDES-SN em relação à denúncia de precarização, exposta nas Revistas Dossiê Nacional lançadas ano passado. A Unipampa está no olho do furação e foi construída para ser assim, precarizada. Ela está no bojo do novo tipo de universidade implementado no país, diferente do tipo de universidade que defendemos. A Unipampa foi feita para ser de passagem, o estudante vai, assiste a disciplina, e volta para casa. Ela não acolhe, não tem espaço de convivência, de alimentação ou para estudos. Os alunos estão reivindicando uma universidade de qualidade ondem possam estudar”.
De acordo com o diretor do ANDES-SN, o movimento está sendo organizado de forma autônoma e independente, visto que a universidade não possui Diretório Central de Estudantes (DCE), e tem sido conduzido de forma pacífica. “Os estudantes estão levando as atividades deles para dentro da Reitoria. Os alunos do Curso de Música têm feito ensaios, os monitores têm trabalhado neste espaço e são feitas duas assembleias, uma às 8h30 e outra à meia-noite. Há muito tempo eles têm reivindicado melhorias, mas a Reitoria não tem dado atenção a eles”, acrescenta.
Antes da ocupação, Camila conta que os estudantes entregaram um documento com as pautas exigindo uma resposta oficial da Reitoria, “que veio repleta de burocracia e sem nenhuma solução”. Ela acrescenta que os alunos também enviaram propostas de soluções para os problemas, como a elaboração de um concurso para solucionar o abastecimento de água voltado para os estudantes dos cursos de engenharia, mas não tiveram respostas concretas. “O momento é de mobilização em todos os campi. Estamos fazendo panfletagem, pedágio para esclarecer a população sobre a ocupação e divulgando vídeos da ocupação para a comunidade acadêmica”, ressalta.
Nedel relata ainda que os estudantes têm sido pressionados desde que iniciaram a ocupação. “A ocupação é ordeira e mesmo assim os estudantes sofrem com a cobertura midiática tendenciosa, com informações que não são verdadeiras. Eles não têm faltado aulas, se revezam, tem deixado os funcionários da Reitoria trabalhar”, exemplifica.
De acordo com o diretor do ANDES-SN, os alunos têm entrado em contato com várias entidades e movimentos sociais, como é o caso do ANDES-SN, para convidá-las a acompanhar o processo. “Eles estão organizando atos com certa periodicidade para expor a situação para a comunidade. O movimento ainda está começando e eles estão precisando de apoio político. Embora o movimento seja autônomo e coeso, eles ainda estão aglutinando forças para enfrentar os desafios. A pressão em cima deles está enorme”. Nedel conta ainda que houve uma conversa inicial com a Reitoria, mas não houve avanços. “Foi no mesmo molde das outras que levaram à ocupação. Nos últimos semestres, os estudantes fizeram inúmeras tentativas, o movimento não eclodiu do nada”, destaca.
Outros problemas
Além dos problemas estruturais, o diretor do ANDES-SN conta que a Unipampa sofre com a carência de espaços colegiados e de apoio administrativo. “Como a universidade é feita no molde do enxugamento financeiro, ela não tem quantidade suficiente de órgãos colegiados”. Segundo ele, o campus de Bagé possui 10 cursos, e é organizado por apenas um diretor de campus, um diretor acadêmico e um coordenador administrativo. “Não tem secretarias para cada curso e os professores têm que organizar os documentos em suas salas, mas nem todos possuem este espaço. Não há funcionário que trabalhe na secretaria e é apenas uma para todos os cursos”, exemplifica o diretor, que acrescenta: “os cursos da Unipampa são pensados para atender a carga horária mínima do MEC, e tudo acaba sendo atropelado. Estudantes e professores sofrem, e não conseguem fazer um bom trabalho. Os cursos possuem duração muito menor”, expõe.
Fonte: ANDES-SN |