Começou nesta quinta-feira, 14/7, o 56º Conad. Antes da abertura oficial, foi realizado o seminário de Ciência e Tecnologia “Universidade, Produtivismo e Privatização do Conhecimento”, com a exposição dos professores Lucídio Bianchetti, da UFSC, e Luiz Menna-Barreto, da USP/Leste.
Bianchetti iniciou sua fala abordando as implicações do produtivismo na Ciência e na vida dos docentes, com destaque para o sistema Capes de avaliação. Segundo ele, a agência de fomento, ao entrar nas universidades para avaliar seu desempenho, passa por cima da autonomia universitária para dar lugar à “heteronomia”.
Para o docente, a ideia da avaliação pelos pares dá um caráter de legitimidade ao processo. Isto gera, em sua opinião, um problema complexo de identidade, que dificulta a resistência.
Outro ponto, segundo ele, que o questionamento do problema é a naturalização do produtivismo na academia. “Qualquer sofrimento deixa de o ser, quando se torna hábito. Este é o ponto-chave”, disse.
Identidade e resistência
Neste contexto, Bianchetti questionou: “Se a inclusão interfere tanto nas condições de vida e trabalho, por que queremos tanto fazer parte do sistema?” Para ele, a possibilidade de estar fora deste modelo não existe. “Ou você adere ou está fora”, alerta.
O professor da UFSC observa que as tentativas de resistência ao sistemas são poucas e quase “quixotesca”, e que as atitudes precisam ser mais politizadas. “Se conseguirmos instrumentalizar essa luta, com a produção de mais pesquisas que denunciem os efeitos negativos do produtivismo, tendo o Sindicato Nacional como espaço de amplificação dessas denúncias, é possível que a situação mude em médio prazo”, avaliou.
Produtivismo x qualidade
Luiz Menna-Barreto focou sua análise no produtivismo que leva à privatização da universidade e do próprio conhecimento. “O modelo produtivista deve ser questionado associado ao modelo social no qual a gente vive”, afirmou. Segundo ele, é preciso lutar contra a ideia de que a privatização da universidade se faz necessária para acompanhar a modernidade.
Menna também reclamou do enfraquecimento do sentido coletivo de universidade, em detrimento, muitas vezes, da defesa de interesses pessoais: “Essa falta de discussão nos deixa sem condições de reverter o autoritarismo”.
Cotidiano Acadêmico
Com relação ao efeito do produtivismo no cotidiano acadêmico, Menna afirmou que a face mais perversa talvez seja a superficialidade da participação na vida acadêmica, principalmente na relação com os técnicos administrativos. Para ele, a universidade passa a ser uma oficina de alienação do serviço público. “Instalam-se verdadeiras linhas de montagem de projetos prontos,” denunciou.
Debate
No final, alguns participantes deram contribuições para o debate. A necessidade de resgatar o sentido da universidade e sua autonomia frente ao modelo econômico imposto permearam as falas, assim como a importância de ações concretas do ANDES-SN na luta contra o produtivismo e no fortalecimento do coletivismo na academia.
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