Além da invasão de terras, os povos indígenas brasileiros têm sofrido com o aumento da violência física durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro. Apenas na primeira semana deste mês de agosto, foram registradas as mortes cruéis de duas jovens indígenas com 11 e 14 anos de idade. A Articulações dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Região Sul (Arpinsul) repudiaram os ataques e exigiram justiça.
Na segunda-feira (9), no Dia Internacional dos Povos Indígenas, o corpo de Raissa da Silva Cabreira, de 11 anos, do povo Kaiowá, foi encontrado em uma pedreira desativada na Aldeia Bororó, Reserva Indígena Federal de Dourados, no Mato Grosso do Sul. A Polícia Civil investiga possibilidade da menina ter sido estuprada e jogada de uma altura de aproximadamente 20 metros.
Na quarta-feira (4), a adolescente Daiane Griá Sales, de 14 anos, do povo Kaingang, também foi encontrada morta, com as partes do corpo da cintura para baixo dilaceradas, em uma plantação na Terra Indígena do Guarita, na cidade de Redentora, no Rio Grande do Sul.
“Não podemos aceitar que nossas vidas continuem sendo ceifadas, e que nossos direitos sejam retirados, ainda mais quando falamos do nosso direito maior, o direito à vida! Somos Daiane Griá Kaingang”, afirmaram, em nota, a Apib e a Arpinsul.
Contra a barbárie cometida contra a jovem Daiane Kaingang, a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) divulgou um manifesto. “Quem comete uma atrocidade desta com mulheres filhas da terra, mata igualmente a si mesmo, mata também o Brasil. Somos 448 mil mulheres indígenas no Brasil que o estrupo da colonização não conseguiu matar e não permitiremos que a pandemia da violência do ódio passe por cima de nós”, afirma trecho do documento.
Também tem sido comum na gestão Bolsonaro a prática de outras formas de violência como a desqualificação dos indígenas enquanto sujeitos de direitos, a desvalorização das formas e processos de produção dos povos indígenas, e a desumanização da pessoa do indígena.
Conforme o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, publicado no ano passado pelo Conselho Missionário Indigenista (Cimi), foi registrada, somente em 2019, violências contra os indígenas como: abuso de poder (13); ameaça de morte (33); ameaças várias (34); assassinatos (113); homicídio culposo (20); lesões corporais dolosas (13); racismo e discriminação étnico-cultural (16); tentativa de assassinato (25) e violência sexual (10). Um total de 277 casos, o que representa mais que o dobro registrado em 2018 (110 registros).
Os estados com maior número de assassinatos foram Mato Grosso do Sul (40) e Roraima (26). No Amazonas, foram registrados 11 assassinatos, segundo dados do Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e secretarias estaduais de saúde.
Os assassinatos indígenas estão georreferenciados na plataforma Caci, um mapa digital que reúne dados sistematizados pelos Relatórios de Violência contra os Povos Indígenas no Brasil. Nos documentos constam 1.191 assassinatos de indígenas, compilados desde 1985. O objetivo da plataforma é dar visibilidade aos casos e mobilizar a luta contra o contínuo massacre dos povos originários do país.
Fontes: com informações da CSP-Conlutas, Cimi, Apib, Caci e Anmiga.
Imagem: @werreria
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