O diretor do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), órgão suplementar da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Lourivaldo Rodrigues, informou durante protesto de funcionários e estudantes, na manhã desta sexta-feira (6), em frente ao Ambulatório Araújo Lima, que a falta de insumos na unidade hospitalar deve perdurar por pelo menos mais três semanas. Com o atendimento médio de 70 pacientes por semana, a estimativa é de que mais 210 pessoas fiquem sem atendimento, além dos cem já prejudicados desde o último dia 26 de outubro, quando todas as cirurgias eletivas foram suspensas e os pacientes encaminhados a outras unidades hospitalares.
“Nós temos um custo de R$ 30 milhões por ano e só recebemos R$ 18 milhões. Em maio encaminhamos à reitoria da Ufam os orçamentos apontando a possibilidade de uma crise por falta de recursos, mas infelizmente o Governo Federal presa por estádios bonitos enquanto a saúde não recebe o mesmo tratamento que a bola”, criticou o diretor do HUGV.
Segundo nota publicada na página eletrônica da Universidade, o Ministério da Educação repassou, em caráter emergencial, por meio da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), R$ 3 milhões para suprir as despesas correntes do HUGV. O montante, de acordo com Rodrigues, no entanto, não é suficiente para garantir que o hospital universitário conseguirá manter o funcionamento.
“Não adianta eu abrir hoje e fechar amanhã. Há a possibilidade de uma nova crise, uma vez que o recurso de R$ 3 milhões não é suficiente. Seriam necessários mais R$ 9 milhões para fechar o ano”, afirmou o diretor. De acordo com ele, o pagamento de fornecedores, água, energia elétrica e alimentação compõe a lista de despesas do órgão suplementar.
Com problemas urológicos graves e há um ano e três meses tentando agendar uma cirurgia, o eletricista aposentado Reinaldo Pereira, 65, informou que a falta de leitos é uma desculpa constante na unidade hospitalar. “Sofro com dores e sempre que venho não há leitos. Quero falar com o diretor para saber o que posso fazer”, afirmou, minutos antes de conseguir falar pessoalmente com o diretor do hospital.
Ensino deficiente
Estudante do 7º período do curso de Medicina, Jéssica Soares, 22, afirma que há 15 dias aproximadamente 50 alunos do período, assim como residentes e universitários de outras turmas, estão sem aulas por falta de pacientes nas enfermarias. Cursando disciplinas como Urologia, Nefrologia, Cirurgia e Otorrinolaringologia, a acadêmica ressalta que os estudantes correm o risco de passar para o 8º e último período da graduação sem terem tido contato, na prática, com as especialidades.
“Já estamos na reta final e corremos o risco de ir para o internato sem ter vivenciado a experiência com determinadas doenças, no ambiente acadêmico”, disse, destacando que caso não tenham acesso a pacientes em todas as especialidades durante o internato, precisarão conviver com uma lacuna no currículo profissional.
Funcionário do HUGV há mais de dez anos, o técnico-administrativo Raimundo Lucena informou que os servidores do HUGV enfrentam dificuldades para exercer as atividades há mais de dez dias, devido à falta de material. “Técnicos em enfermagem, enfermeiros e médicos estão sem prestar o atendimento. Faltam até medicamentos básicos como dipirona. Essa situação não pode continuar”, disse o servidor, destacando que a liberação dos pacientes de cirurgias eletivas, submetidos a preparo pré-operatório gera prejuízos de ordem psicológica. “Isso mexe com a ansiedade dos pacientes e causa certo problema psicológico”, completou.
Lucena destaca que mesmo com a recente assinatura do contrato da Ufam com a Ebserh, a situação não deve melhorar. “Uma empresa privada, que visa lucro, não vai se meter num ambiente como esse, onde faltam profissionais e material. Ela vai esperar que faça essa torre [obra do novo HUGV] para começar a gerar lucro”, criticou.
Consultas
Membro da Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Manaus, Raimundo Jorge Silva de Oliveira informou à ADUA que há duas semanas tenta atendimento no HUGV, sem sucesso. “Tenho várias consultas e exames para marcar, fora os que já foram solicitados, mas ainda não foram liberados pelo Sisreg [Sistema de Regulação], porque há uma longa fila de espera. Isso é um absurdo!”, criticou.
Indignado com a situação, ele afirma que a população de Manaus precisa pressionar o Governo Federal e exigir atenção prioritária para o segmento da saúde. “Isso é triste para um país que ‘derrama’ bilhões em recursos para uma Copa do Mundo e não derrama um centavo na área de saúde. Isso é revoltante!”, lamentou Oliveira.
A Pastoral da Saúde tem como finalidade agilizar a marcação de consultas e procedimentos para pessoas da capital e, principalmente, do interior que têm dificuldades de acesso aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).
Fonte: Adua |