O incêndio no galpão da Cinemateca Brasileira, em São Paulo (SP), na noite desta quinta-feira (29), representa o descaso do governo Bolsonaro com a Cultura, a Arte e a História em mais uma tragédia anunciada. Desde abril deste ano foram feitos alertas sobre o abandono da instituição. Após duas horas de chamas, o fogo no prédio que possuía o maior acervo de imagens em movimento da América Latina foi controlado, mas ainda não se sabe a dimensão do prejuízo.
Antes do incêndio, a Cinemateca Brasileira reunia cerca de 245 mil rolos de filmes e 30 mil títulos, entre obras de ficção, documentários, cinejornais, filmes publicitários, livros, roteiros, registros familiares, entre outros documentos.
Existente desde 1940, a instituição possuía também Laboratório de Imagem e Som e Banco de Conteúdos Culturais, incluindo registros de imagens da TV Tupi, a primeira emissora do país inaugurada em 1950 e extinta em 1980. É a História do Brasil que se perde em mais um cenário de abandono, apesar das cobranças de ação emergencial para preservar o acervo e manter o funcionamento do espaço.
Projeto de descaso
O incêndio é resultado de um projeto de abandono e sucateamento de Bolsonaro com a Cultura e a História brasileiras. Em 2019, o governo rescindiu contrato de manutenção da Cinemateca com a Fundação Roquete Pinto.
Em abril deste ano, trabalhadores e trabalhadoras da instituição denunciaram em carta aberta o abandono da Cinemateca. O risco de combustão espontânea foi destacado devido à presença de nitrato de celulose em alguns materiais, assim como a exigência de cuidados especiais em outros materiais.
No manifesto, foi cobrada uma ação emergencial para preservar o acervo e manter o funcionamento do espaço que se encontrava fechado após representantes do Ministério do Turismo impedirem o acesso da Organização Social que estava responsável pela gestão.
“Não há corpo técnico contratado, o acervo segue desacompanhado e não há qualquer informação sobre suas condições. Por esse motivo, lançamos um alerta acerca dos riscos que correm o acervo, os equipamentos, as bases de dados e a edificação da instituição”, denunciavam na carta.
A situação foi debatida na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, no dia 12 de abril deste ano. Apesar do secretário especial de cultura e ator, Mário Frias, apoiador de Bolsonaro, ter anunciado que contrataria uma Organização Social para manter o local, nada foi feito.
A perda da memória nacional foi repercutida na imprensa como uma tragédia que apaga 60 anos de História do Brasil. “Ao afastar o corpo técnico altamente especializado da Cinemateca Brasileira, o governo criou as condições para essa tragédia anunciada (...) O incêndio do galpão da Cinemateca é o resultado do desprezo e incompetência de um governo que veio para apagar a nossa memória coletiva, e não para preservá-la”, afirmou, nesta sexta, o cineasta Walter Salles em entrevista à Folha de São Paulo.
Investigação
Informações preliminares dão conta que o incêndio teria começado durante uma manutenção no ar-condicionado e que, pelo menos, 1 mil metros quadrados (m²) do prédio dos 9,5 mil m² foi atingido.
A Secretaria Especial de Cultura do governo federal informou que a Delegacia da Polícia Federal vai conduzir um inquérito para apurar as causas do incêndio.
Fontes: com informações da CSP-Conlutas, Agência Brasil, G1, UOL e Folha de São Paulo
Imagem: Reprodução/Agência Brasil
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