O vigor da mobilização da comunidade universitária fez história na última quinta-feira (26), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A presença de quase mil estudantes, técnicos e professores no auditório do Centro de Tecnologia no campus do Fundão da universidade conseguiu arrancar da pauta do Conselho Universitário a deliberação sobre a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), como previa a convocação da reunião. Trata-se de uma vitória política inquestionável diante de forças poderosas interessadas em transferir para a empresa a gestão de hospitais da rede da universidade.
Diante da pressão contra a empresa criada pelo Ministério da Educação (MEC), o reitor Carlos Levi recuou da agenda prevista e se disse favorável “a encaminhar solução mais consensual”. A massa de pessoas atraídas ao CT – há anos o auditório não recebia tanta gente – impressionou tanto que, ao encerrar a sessão, o reitor anunciou que chamaria interlocutores da comunidade em busca de solução que represente “o sentimento da maioria da UFRJ”.
O colegiado da última quinta mostrou a capacidade de mobilização e a unidade dos três segmentos que dão vida à UFRJ. Foi a vitória de valores éticos, de quem defende a universidade pública e a autonomia universitária sobre um setor invertebrado da universidade que se curva às imposições do governo, traduzidas pelas determinações do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG).
A presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira, esteve presente à reunião. Convidada a falar, Marinalva fez um forte discurso contra o processo de sucateamento da Saúde e da Educação públicas. A presidente do ANDES-SN ressaltou que a Ebserh é um retrato claro de intervenção direta do capital sobre os serviços e que não é possível que uma universidade deixe ter sua autonomia afrontada dessa maneira.
"Não aceitamos o modelo gerencial do capital. Não aceitamos que nos tirem o desenvolvimento do conhecimento com qualidade. O ANDES-SN está presente porque o nosso modelo de universidade e de Educação tem garantida a autonomia universitária", afirmou.
As palavras de Carlos Levi prometendo esforços em busca do diálogo foram recebidas com cautela pelo movimento. O reitor não deixou claro que descartará a proposta de contrato com a empresa. No curso desse exaustivo processo de discussão – no qual os movimentos têm procurado esclarecer e neutralizar a ameaça de se mercantilizar os hospitais universitários – a reitoria tem irradiado autoritarismo. E o custo não tem sido baixo, com a tentativa de se atropelar regimentos e estatuto e de dividir a UFRJ.
Plebiscito
Representações de várias universidades federais vieram acompanhar a reunião do conselho. A expectativa é grande pela importância da UFRJ, que abriga a maior rede de Hospitais Universitários do país. Logo, as decisões tomadas nessa universidade terão influência sobre outras instituições federais de ensino. No seio desse debate, surgiu com força o tema da democracia. E uma das propostas recorrentes em várias intervenções feitas no plenário da sessão foi a de realização de um plebiscito – se este for o caminho necessário para tornar mais incontestável ainda o repúdio da comunidade da UFRJ à Ebserh.
Fonte: ANDES-SN |