Manifestações estão sendo convocadas para 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Entre elas está a Jornada Internacional Anti-imperialista que denuncia as agressões do capital à natureza. No Brasil, o cenário é de alerta. O país possui um ministro do meio ambiente investigado pela Polícia Federal (PF) por graves suspeitas de irregularidades; vivencia violentas tentativas de invasão de garimpeiros às Terras Indígenas Yanomami, em Roraima; e aprovou recentemente o Projeto de Lei (PL) 3.729/04, que praticamente elimina a exigência de licenças ambientais.
Os protestos – previstos para ocorrer simultaneamente às 12h em todo o mundo – terão como foco expor e denunciar os responsáveis pela crise (governos e empresas) e apresentar alternativas populares para uma defesa anti-imperialista do meio ambiente. A orientação é pela realização de atos em frente a sedes de corporações e governos responsáveis pela destruição do meio ambiente e de órgãos ambientais para denunciar os desmontes das políticas do governo Bolsonaro.
A Jornada Internacional de Luta Anti-imperialista também incentiva iniciativas solidárias como a distribuição de sementes, plantio de árvores, e doações de alimentos. Os manifestantes tem como lema central “Povo Vivo! Floresta em Pé! Fora Bolsonaro!” e usarão nas redes sociais as hashtags #EmDefensaDelPlaneta e #PovoVivoFlorestaEmPé.
Rei da madeira ilegal
No dia 19 de maio, a Operação Akuanduba, comandada pela PF, fez diversas ações com objetivo de investigar a exportação ilegal de madeira para a Europa e os Estados Unidos, e um dos suspeitos de contrabando e favorecimento a madeireiras é o próprio ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro, Ricardo Salles, além de outros integrantes da pasta, gestores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e empresários.
Conforme reportagem do G1, a Polícia pediu o desarquivamento de um relatório entregue, no ano passado, à Procuradoria-Geral da República (PGR), que aponta suspeitas de irregularidades em um escritório de advocacia em que Salles é sócio, por movimentação atípica de R$ 14 milhões.
No centro das investigações, Salles também é suspeito de impedir a maior apreensão de madeira ilegal da Amazônia. No último dia 31, o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, encaminhou um pedido de inquérito para investigar o episódio e que servirá para a conclusão da análise da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmén Lúcia, sobre a notícia-crime apresentada pelo delegado da PF, Alexandre Saraiva.
Conforme levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), pelo menos 317 atos oficiais de Salles, editados em 2019 e 2020, trazem grande comprometimento à política ambiental. “É um processo de desmonte muito grave, e isso consolida a visão de que o Salles está lá para isso. O MMA, do ponto de vista do orçamento, nunca foi muito relevante, mas ele passa a ter um papel muito relevante neste governo, que é justamente o de desmontar o que existia de política ambiental”, afirmou, em entrevista à Rede Brasil Atual, a coordenadora do estudo e assessora política do Inesc, Alessandra Cardoso.
Povos tradicionais
“O que esperamos é que a investigação não somente exonere os responsáveis, mas que eles sejam presos pelo crime cometido contra o meio ambiente e que prejudicam enormemente e levam ao genocídio, principalmente, dos povos indígenas da região Amazônica”, afirmou o integrante da Secretaria Executiva Nacional da Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas), Paulo Barela.
No último dia 15, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) informou que, desde o dia 10 de maio, a aldeia Palimiú sofre ataques de garimpeiros. Localizada nas margens do rio Uraricoera, a Aldeia fica próxima a rota do ouro explorada por garimpeiros e que atacam os indígenas. Na tentativa de fugir de um dos ataques, duas crianças morreram afogadas.
Apesar de ilegal, o garimpo em terra indígena aumentou nos últimos anos devido ao preço do ouro e à ausência de fiscalização. Além do medo, o povo Yanomami já vive severas consequências do garimpo, como a alta concentração de mercúrio nas águas dos rios e envenenamento dos peixes.
Sem licença, mais desmatamento
Aprovado na Câmara dos Deputados, no dia 13 de maio, o PL 3.729/04 colabora para o aumento da devastação ambiental no país, uma vez que favorece grandes empresas exploradas de recursos com o relaxamento das fiscalizações.
“Bolsonaro pretende entregar sua promessa de campanha de legalizar áreas públicas sob grilagem e liberar obras em áreas ambientalmente protegidas. Assim, o ministro Ricardo Salles é a pessoa no local certo. Investigado pela Polícia Federal por interferir a favor de madeireiros em investigação em curso, o ministro chegou ao ponto de avisar sobre fiscalizações que seriam realizadas no Pará, em evidente ato de improbidade administrativa”, comentou o advogado e integrante do Setorial do Campo da CSP-Conlutas, Waldemir Soares Jr.
*A frase “ir passando a boiada” foi dita por Ricardo Salles em reunião ministerial, no dia 22 de abril de 2020, e ao defender que o governo federal “aproveitasse” a pandemia da Covid-19 para aprovar medidas prejudicais ao meio ambiente e que favorecem garimpeiros, mineradoras e grandes empresários.
Fontes: Com informações do ANDES-SN, da CSP-Conlutas, Jornal A Crítica, Rede Brasil Atual, Brasil de Fato e Mídia Ninja
|