Elciclei Faria dos Santos possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Mestrado e Doutorado em Educação na mesma Instituição. Atualmente é Docente na Ufam, com atuação na área de Educação e formação de docentes indígenas. Representa a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (ADUA – Seção Sindical do ANDES-SN) na Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI). Ainda em razão das atividades deste abril vermelho, em alusão ao 19 de abril, dia de luta pela sobrevivência indígena e manutenção dos direitos, a Professora Elciclei Faria fala um pouco sobre este movimento popular de grande importância para as atividades de luta pela sobrevivência indígena e manutenção dos direitos.
ADUA: Como surgiu essa frente de mobilização?
Professora Elciclei: A Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI) foi constituída em dezembro de 2018 durante o encerramento da “III Marcha dos Povos Indígenas do Amazonas” que ocorreu no hall do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e conta com representantes de entidades indígenas, indigenistas, sindicatos de classe e representantes políticos que, numa ação de resistência coletiva, apoiam e somam esforços à luta dos povos indígenas pela defesa e manutenção de seus direitos.
ADUA: O que compõe hoje a Frente Amazônica?
Elciclei Faria: Dentre outros, compõem a FAMDDI: Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas – FOREEIA; Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – AMARN; Conselho Indigenista Missionário – CIMI; Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES; Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami – SECOYA; Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas – ADUA; Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas – SJP/AM; Mandato do Deputado Federal José Ricardo.
ADUA: O que se pode destacar como recentes conquistas pelos povos indígenas?
Elciclei Faria: Antes de me deter sobre conquistas dos povos indígenas, é necessário destacar que a luta dos povos indígenas no Brasil, sobretudo no atual contexto político, tem sido pelo direito à VIDA e pela manutenção de SEUS direitos fundamentais: terra, saúde, educação, segurança, alimentação...
Nesse abril de 2021, em que o Brasil vive a pior crise sanitária e humanitária decorrente da pandemia de COVID19, que assola o mundo e já ceifou milhões de vidas - os povos indígenas são vítimas tanto da COVID19 como das políticas nefastas por parte do governo brasileiro. Lembramos que, desde a campanha eleitoral, em 2018, já anunciavam ataques, violação de direitos e morte aos povos indígenas do Brasil.
Portanto, é difícil hoje assinalar conquistas na luta indígena pois o líder político do país – o presidente da República – assumiu e está impondo um projeto genocida de perseguição e incentivo ao assassinato de lideranças, invasão e destruição dos territórios, exploração da natureza – fauna, flora, rios... – e, com isso, efetivando a violação de direitos e destruição da vida dos povos originários.
ADUA: É então um movimento construído por muitas vozes, isso também tem um motivo, certo?
Elciclei Faria: É importante registrar que a própria FAMDDI representa uma conquista no apoio à luta dos povos indígenas. Por que uma “frente”? Porque sabíamos que, diante do cenário que se delineava, qualquer esforço individual, por mais engajado que fosse, seria insuficiente para defender os direitos ameaçados. Era necessário somar esforços com outros militantes e grupos sociais envolvidos na mesma luta. Por que mobilização? Porque sabíamos que, mesmo sendo importante, a luta no campo acadêmico e no campo jurídico já não era mais suficiente. Para a defesa dos direitos ameaçados torna-se necessário mobilização, é preciso ir juntos para as ruas e as praças. Fizemos isto muitas vezes... no momento estamos nos mobilizando de forma virtual, mas voltaremos às ruas e praças assim que isto for possível.
ADUA: E como é a presença da ADUA na Frente de mobilização?
Elciclei Faria: Por tudo isto, nós, enquanto ADUA, integramos a FAMDDI apoiando a luta em defesa da manutenção da vida e dos direitos dos povos originários, que seguem ameaçados, sobretudo pelos atuais governantes em nível federal, estadual e municipal, em especial na Amazônia.
ADUA: E este dia 19 de abril de 2021?
Elciclei Faria: O que dizer no dia 19 de abril? Denunciar nos organismos nacionais e internacionais – Conselho Nacional de Direitos Humanos – CNDH, Organização Internacional do Trabalho (OIT); Organização das Nações Unidas (ONU), entre outros – os ataques e a violação de direitos dos povos indígenas presentes no projeto genocida do Estado brasileiro implementado pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
ADUA: Como vai ser a atuação da Frente neste abril indígena?
Elciclei Faria: Diante dessa realidade de negação e ataque à vida dos povos indígenas, a FAMDDI irá realizar nos dias 29 e 30 de abril, no âmbito do Abril Indígena 2021, atividades virtuais envolvendo debates, estudos, relatos e testemunhos de indígenas sobre processos de genocídio em curso no Amazonas e consultar organizações indígenas, indigenistas e de defesa de direitos humanos, no sentido de subsidiar medidas concretas junto aos tribunais nacionais e internacionais de direitos humanos na busca de responsabilizar criminalmente o Estado brasileiro pelo atentado contra a humanidade, em destaque a vida dos povos originários.
ADUA: Sucesso no evento e obrigada, professora.
Essa foi a entrevista com a docente da Ufam, Elciclei Faria, representante da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (ADUA – Seção Sindical do ANDES-SN) na Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI).
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