Representantes de entidades sindicais, sociais e populares estiveram reunidos, nesta segunda-feira (13), na sede da Adua, para avaliar a possibilidade de criação de um fórum local de debates focado na discussão de temas referentes à educação pública de qualidade e também a assuntos que extrapolam os limites da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A reunião, convocada para deliberar sobre as perspectivas dos movimentos participantes, encerrou em uma ampla análise de conjuntura local e nacional.
De acordo com o presidente da Adua, José Belizario, o objetivo das discussões é “estimular os movimentos sindicais e sociais do Amazonas a unirem forças na luta pela garantia de direitos fundamentais e contra as políticas de governo que ferem princípios constitucionais e atacam direitos dos trabalhadores”. Os participantes da reunião terão novo encontro, previsto para ocorrer no dia 7 de junho, quando deverão apresentar as pautas de cada categoria e avaliar, de fato, a criação efetiva do espaço de debates.
Para o professor Jacob Paiva, integrante da base da Adua, a seção sindical precisa assumir, com outros movimentos, uma espécie de “protagonismo coletivo” neste novo processo de luta que, na opinião dele, começa a se delinear no país. “Dificilmente algum setor avança na sua luta sozinho, diante de tantos ataques do governo. Por isso, é importante, junto com outras entidades, assumirmos o enfrentamento destas políticas governistas. Há um momento propício para a reorganização das lutas no Estado”, avalia, acrescentando que a greve dos professores e de outras categorias do serviço público federal, no segundo semestre do ano passado, criou ambiente propício para tal.
No entendimento da professora Maria Conceição Derzi, os representantes dos movimentos precisam engendrar esforços para aglutinar forças com outras entidades locais. Ela citou como exemplo o recém-lançado Comitê de Enfrentamento à Homofobia do Estado do Amazonas (Ceham), criado como parte da implementação de políticas públicas voltada para a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros). “Num país que ainda discrimina de forma acentuada, temos que enfrentar as pessoas que não respeitam àqueles que decidem amar à sua maneira”, disse.
Além de combate a todo tipo de discriminação, o Fórum poderá também defender os direitos das pessoas que correm risco de morte, em virtude de denúncias contra a ordem político-econômica estabelecida. O coordenador do Movimento Luta Popular (MLP), Júlio César Ferraz, citou o caso de um dirigente de movimento social que está hospitalizado, em situação grave, após sofrer um atentado, por conta de sua luta contra a grilagem de terras no Amazonas. “Uma das nossas perspectivas é ter o posicionamento de mais fontes junto à imprensa, contra a criminalização dos movimentos sociais”, acrescentou, observando ser esta uma maneira de manifestar apoio às testemunhas e vítimas de ações criminosas.
Representando o Coletivo Tucandeira, o mestrando Ítalo Siqueira avalia que a possível criação do fórum vai de encontro ao desejo do movimento estudantil de discutir temas de interesse da academia e da sociedade, lutando contra as principais formas de exploração, entre elas a econômica. “A universidade tem um papel social a cumprir e deve estar a serviço da sociedade e não do mercado. Não é fácil fazer movimento estudantil na universidade, mas vamos continuar defendendo a educação pública e de qualidade para o povo”, arrematou.
Preocupação
Diferente da maioria das manifestações, o professor Tomzé Vale, diretor regional do Andes-SN, vê com “certa preocupação” a criação de mais um espaço de discussão e debates, sem que, na opinião dele, as entidades estejam fortalecidas em sua atuação. “Estamos dando um passo à frente, sem estar num terreno sólido para isso. Não desmerecendo cada uma dessas lutas, que são reais, mas este seria mais um fórum que, no momento, não temos condições de dar conta”. Para ele, cada entidade deveria, antes disso, focar no planejamento de suas próprias ações antes de partir para a atuação coletiva.
Partilhando da mesma avaliação do docente, o representante da CSP-Conlutas, Gilberto Vasconcelos, afirmou que as entidades precisam dar mais organicidade às próprias ações, para posteriormente pensar na possibilidade de enfrentamento de problemas comuns. “Sem organização, as entidades não tem como garantir apoio às demais nas ações coletivas e no embate contra as políticas do governo”, avalia.
Ao fim do encontro, as entidades já citadas, além do Coletivo Feminista Baré e dos Movimentos Educar para a Cidadania e de Oposição à Diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas (Sinteam), firmaram o compromisso de sanar algumas pendências relativas a cada entidade, para decidir a criação ou não do fórum de debates.
Fonte: Adua |